terça-feira, 4 de maio de 2010

Observações esparsas sobre uma cidade sem eixo narrativo.


Ao chegar a Maceió, o assédio de taxistas no aeroporto é enorme, mas o ônibus que vai para Ponta Verde passando pelo centro e por Pajuçara sai da frente dele, e por apenas R$2,00 pode levá-lo até às duas das principais praias da cidade.

No trajeto, logo você vai assustar-se com um córrego fétido que toma grande parte do caminho e divide uma das principais avenidas de acesso à orla. Infelizmente, este esgoto a céu aberto, escuro e de odor extremamente desagradável, vai desembocar em uma praia, obviamente imprópria, onde talvez pelo cheiro acre constante, não se instalaram ali as quadras de esporte que se encontram sucessivas em praias vizinhas como Sete Coqueiros e Pajuçara.

De Sete Coqueiros à Ponta verde e de lá à Jatiúca, pode-se observar que a orla ostenta prédios sofisticados, embora muitos deles em terrenos mínimos, com pouco ou quase nenhum recuo. Em Pajuçara, o tom escuro predomina nos prédios, sabe-se lá por quê. O mármore é onipresente nos revestimentos, mas não quer dizer que embeleze, pelo menos não a meus olhos. Ao contrário, lembrou-me o comentário atribuído a esposa de Giscard D'Estaing (então presidente francês, quando da visita o Brasil, em outubro de 1978): “O Brasil um país tão pobre e utiliza tanto mármore...”

Aliás, a diferença entre as classes é aviltante, tanto que pode-se encontrar pessoas utilizando-se de um cano de água a vazar na rua para lavar roupas (foto), enquanto a grande maioria dos carros tem ar-condicionado, imperando os de grande porte.

Na orla ficam ótimos restaurantes e o atendimento é muito bom, assim como a comida farta e barata.

A variação de preços na pousadas é grande, então vale a pena pesquisar. Infelizmente não consegui achar uma sequer que tivesse ventilador ao invés de ar condicionado. Aliás, atendentes de pousadas e garçons são simpaticíssimos por lá.

O calçadão é fartamente arborizado por coqueiros, dando um astral agradável em tons e cores característicos. Uma extensa ciclovia se estende por toda essa orla, mas os moradores não a utilizam: os ciclistas preferem andar pela pista destinada à caminhada e, então, as pessoas transitam pela ciclovia. Em todo caso, a existência da ciclovia por si, mostra uma preocupação com uma estética que possa ser utilitária e ao mesmo tempo bonita. 

Infelizmente as igrejas no Centro Histórico não abrem aos domingos, o que é uma pena; por sinal, o local fica completamente deserto. E, apesar de um ou outro prédio, o histórico do Centro é incipiente.

O enorme monumento a Teotônio Vilela, mantêm o ar condicionado ligado constantemente, no calçadão de sete coqueiros, e quem sai do calor para aquele ar gélido corre o risco de um choque térmico! O monumento de Niemeyer tem ao alto uma escultura em concreto, que pretende lembrar uma foice e um martelo, mas recordou-me mais uma cabeça de “Alien, o oitavo passageiro”. Mas afinal, aquele arquiteto também faz monumentos... E este, por incrível que possa parecer,apesar da autoria, ainda tem grama e coqueiros; menos mal. Pretende-se ali cultuar a memória do “estadista”, que pretendem transformar em arauto do socialismo, por sua luta em favor das liberdades políticas e da redemocratização do país. Mas ele não foi membro da UDN e posteriormente da ARENA, braço de sustentação da ditadura militar?

O Mercado Central é um tanto sujo e desorganizado, com produtos expostos na linha do trem, sem o glamour mostrado em recentes programas de TV. Encontrei algo que procurava há algum tempo, sem sucesso em outros estados; deve ter caído em desuso, mas em época de dengue pode ser um acessório bastante útil: um mosqueteiro! Sim, lá eles ainda são vendidos e depois tornei a encontrá-los em Penedo, Neópolis, Aracaju... Mas, enfim, tem coisas que é melhor comprar de cara; já perdi inúmeros itens por deixar para comprar na próxima cidade, e nunca mais vê-los.

O artesanato local não empolgou, nem mesmo indo atrás dele, no Pontal da Barra, onde supostamente viveriam as rendeiras de Maceió. Pode ser que empolgue o leitor se este nunca tiver ido a Fortaleza, Teresina ou João Pessoa. 

Fotos: Djair

4 comentários:

  1. Em Maceió visitei lindas praias: Pajuçara, do Francês, do Gunga, de Maragogi, Paripueira (onde tem a sede do Parque Municipal Marinho de Preservação do Peixe-Boi), etc. Realmente, saindo um pouco da orla da praia (extensa, com vários quiosques e bem cuidada), você encontra um outro lado que não agrada tanto. E o que faz pelo seu povo a Família Collor, dona de quase toda Alagoas?

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  2. Um excelente trabalho de fotografia literária. Não é preciso distorcer o foco para que o focado se mostre embaçado como realmente é. Não é preciso usar filtros para mostrar como as coisas realmente já são filtradas. Basta um olhar discreto, mas preciso, que desvende a nudez do rei, mesmo que este seja o povo que, apesar de tudo, amamos. Parabéns!

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  3. Nao havia lido esse texto qdo publicou mas foi bom ter lido agora pois conheci Maceió ano passado e realmente vc tem razão. Ainda outro dia conversei com um amigo e comentamos que fora da orla, Maceió parece um canteiro de obras, mas sem obras! Entulho, lixo, miseráveis... O mercado municipal me decepcionou e nem tivemos vontade de conhecer o Pontal das rendeiras... Fico pensando em que é gasto o dinheiro do turismo, já que as belezas naturais atraem turistas em grande número... Talvez os políticos da região saibam bem essa resposta...

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  4. Eu como alagoana, amei o texto!! Descreveu a Grande Maceió como realmente ela é! Parabéns!!

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