quinta-feira, 29 de julho de 2010

Férias

Mas uma vez devido a férias, o blog entra em recesso.

Quem sabe após a viagem a inspiração e vontade de escrever voltem.

Por hora aproveitem para rever postagens antigas, que podem ter passado rapidamente por vossas visões sem ser notadas.


"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. "
Clarice Lispector.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Três Marias Gozosas


Maria Letícia sempre foi uma moça avantajada, seios fartos e firmes como os glúteos, pernas longas como um obelisco, se queixava de não ter cintura, mas precisava? 
  Fazia o gênero morena de sobrancelhas grossas, que ornavam olhos de um negro profundo que as vezes desafiavam noutras convidavam a aproximar-se deles, dela... 
  Casou-se apaixonada, arrebatada, emocionada. 
Ainda se usava casar virgem, então se guardou. Mais por ele, que por ela. Resolveram não ter filhos. Estava tudo tão bem, pra que arriscar, e embora a mãe de ambos cobrassem, eles sempre davam como resposta que elas já tinham netos suficientes dos irmãos. E ela frisava, que todo o instinto materno, tinha ficado com a irmã mais velha, que tinha quatro rebentos. Com ela não. 
  Um dia, e sempre há: “um dia”, ela descobre um caso dele com a secretária. Continuam juntos, mas algo havia se quebrado. O amor e pureza, dedicação e credulidade estavam perdidos. E com isto, veio o desejo de vingança.

  De espírito prático e investigativo, indagou e teve como resposta que o que mais humilharia um homem não era ser trocado por um homem, mas por uma mulher. E decidiu, então se é assim, que assim seja!

  Conheceu uma amiga de uma amiga em uma festa, e demosntrou a esta, que já tinha sua opção definida, que estava disposta, e muito bem disposta a experimentar.

  E assim, foi, não como quem dá-se ao carrasco, mas de peito aberto, e com o prazer de quem se vinga. Não sei qual o prazer foi maior, mas ela gostou da experiência, repetiram uma duas, e as vezes que foram necessárias.

Comunicou ao marido, e mandou-lhe cuidar do filho e amante, ela seria ótima esposa, já que fora secretária tão competente.

  Maria Lúcia veio morar com Maria Letícia, que continuou a gozar a vida.

***** 

Gisele Maria era uma loura bonita, olhos azuis claríssimos, pele alva com sardas charmosas a tornar-lhe os ombros sensuais, magra sem excessos, e uma graça natural que somada ao sorriso de dentes alvos e perfeitos fariam anjos descerem a terra.

  Casou-se logo depois de formar-se. Virgem, como queria, para se guardar ao homem a quem amava. Branco, festa, flor de laranjeira.

  O marido, alta patente do exercito, era de uma beleza física que ornava com a sua em número e grau, apenas de gênero diferente e em versão amorenada e embora a sisudez máscula se fizesse presente, era de carisma tal e qual, despertando cobiças nas amigas e primas  de Gisele Maria.

  Logo depois do casamento a decepção. Àquele para quem ela se guardara, e tão belo que era, tinha ejaculação precoce. Há tratamentos, logo o problema não haveria de ser assim tão grave. No entanto, o machismo arraigado, talvez até acentuado pela carreira militar, fazia com que ele sequer pensasse na idéia de submeter-se a tal.

  Para piorar, não era dado a carinhos, era penetrar, ejacular, sair, banhar-se. E ela, submetia-se sem prazer e enquanto ele de bruços sonhava, ela encarava o pesadelo cotidiano.

  Os anos passaram-se e vieram os filhos, um casa, gêmeos, herdaram a morenice do pai e os olhos da mãe.

  Um dia ela revê um primo que tinha ido estudar fora, e matam saudades, matam curiosidades, e a amizade que era profunda volta na forma de atração. Ela decide ceder a tentação, já sete anos de casada, sem nunca um orgasmo sequer, era hora de experimentar outro, afinal para o marido estava tudo bem, e ele não admitia mais seuqer tocar no assunto. Ela era mulher, não tinha que conversar destas coisas.

  Na alcova, achou tudo muito diferente, carinhos, beijos, afagos, tantas mãos ele tinha, tantas bocas, tanto contato, e derepente, no fogacho da narrativa, ela tem o seu orgasmo na vida, seguido por um desmaio que assustou o primo que não sabia o que lhe proporcionava.

  Depois disto, não teve jeito. Pediu divórcio, o primo foi embora, ela pediu transferência no emprego e também mudou de cidade, vieram outros homens, vieram outros orgasmos, tão, mais e menos intensos.

  Ela voltou a andar com um sorriso nos lábios.

 
 *****

Maria Rita era uma morena vistosa, a quem deus presenteou com as curvas mais voluptuosas do bairro.

  Casou-se cedo, e cedo enfadou-se do sexo monótono do marido, afinal decotes, meias calças, mini-saias, peitos fartos, coxas roliças, cintura fina, grossos lábios sempre cobertos de carmim, eram pra despertar maior cobiça naquele moço pacato, trabalhador e que acima de tudo a adorava.

              Ouvia sempre cantadas por onde passasse, das mais sutis às mais descaradas. Na rua, no trabalho, na feira. E um dia resolveu, vou experimentar. E daí a pratica foi um pulo, a experimentação deu certo, e assim o hábito se fez frequente.

              O Marido até sabia, mas era dos que não se importam desde que não lhes falte, até porque a chama de afeto que por ela sentira, nunca deixou de arder dentro dele. A de tesão então, não era apenas uma labareda, mas um incêndio. Para ele, para ela não.

              Um dia perguntada por uma amiga porque não o deixava respondeu: “_Ele gosta de mim, me aceita do jeito que eu sou, cuida bem da casa, de mim, e do filho. Vou deixá-lo por quê?”

              E assim vivia suas aventuras, e vivia muito bem o marido. Um dia, em uma discussão comum entre casais, o marido xingou-a: “_Vagabunda!”

              Não teve dúvidas, foi direto à delegacia da mulher, prestar queixa. Afinal a palavra era forte!

              Enquanto aguardava, prestava atenção à fauna presente, mulheres estropiadas, olhos roxos, braços quebrados, lábios inchados, hematomas dos mais diversos tons e cores. Choro, ranger de dentes, lagrimas no rosto e catarro jogado às paredes.

              Uma “estrupiadinha” que estava ao lado, talvez tendo a curiosidade despertada pela mulher bonita e com cara de bem cuidada sentada também a aguardar, pergunta-lhe o que faz ali.

              Narrado o fato, que por ter sido chamada de vagabunda irira prestar queixa, a interlocutora indaga incrédula: “_Mas você vai dar queixa dele só por isso?”

              A resposta fulminante, corta quaisquer possibilidade de continuidade no diálogo: “Vou, sim senhora, antes que ele pegue gosto e eu chegue aqui como você!”

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Labareda



Labareda

Calor que vem das chamas
Rebatendo o fresco vento leste
As estrelas a brilhar
Competem com a luz das labaredas
 
Nem junho é - dizem alguns...
É preciso que seja? Respondo eu.
Sempre fiz fogueiras
Sempre farei
 
Perto do fogo
Aconchegado no calor
Junto do fogo e do vinho
- iluminado...
 
A madeira ardente crepita
Sobrinhos ao lado
Conto histórias
De trancoso* e de fadas
 
A água
Apaixonada pelo fogo
Se aproxima (por cima)
E do céu desce
 
O sereno lento cai
E encontra a chama
No beijo voluptuoso
Se consomem
 
O tempo, senhor das horas corre
As crianças e mais velhos se recolhem
Fico só. Ou não...
Eu, o fogo e o vinho
 
E sinto-me iluminado
Como hippies, como hindus
Como adoradores de fogo da idade média
Ou cuspidores de fogo dos circos
 
E ouço no silêncio
Apenas a madeira crepitando
Chorando a arder
E se transformando em algo também belo
 
Talvez pela embriaguez do vinho
Um sentimento de solidão
E ao mesmo tempo de acolhimento
E só quero estar ali.
 
Perto do fogo
Aquecido
Abandonado
Querido
Inebriado.



* A expressão histórias de trancoso, denomina histórias de encantamento, de autoria desconhecida ou lendas e crendices. As histórias de trancoso independente de autores recebem esta denominação, tem tradição oral e serviram como inspiração para muitas obras da  literatura de cordel.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sobre a copa e o orgulho nacional

Domingo próximo encerra-se mais uma Copa do Mundo de Futebol.

Para o Brasil, terminou mais cedo, há praticamente uma semana... Ao primeiro impacto da derrota para a equipe holandesa, o país pareceu murchar. Até a manhã que antecedeu a eliminação da equipe brasileira, por onde se passasse haviam pessoas acompanhando jogos, bandeiras nas janelas, ruas enfeitadas nas cores pátrias, que eram onipresentes no vestuário das pessoas, pelas ruas, ônibus e metrô. O assunto invariavelmente esbarrava em “copa”.

Discussões sobre quem entende mais, homens ou mulheres, as zebras, bolões e seus ganhadores...

De repente, silêncio. Como o que antecede o gol. Só que desta vez o silêncio continuou. Como um engasgo...

Em um editorial, li que talvez fosse “enfim” o sepultamento “de uma vez por todas” do ufanismo brasileiro que sempre desperta em época de copa do mundo.

Não creio. Faz parte da cultura nacional. E mesmo os menos interessados pelo esporte em questão, como eu, que gosto mais do “furdunço em torno de” a cada jogo ganho pela seleção, deixam dentro de si um pouco de esperança quanto à vitória no próximo mundial e certo orgulho de ter chegado até ali e vencido mais uma etapa.

Há exceções, claro, até mesmo aparentemente antinacionalistas. Fanáticos de certo time, que não teve um só representante na seleção, alegaram torcer para a Argentina, que tinha jogadores que já haviam jogado em seu time. Mas seria verdade essa “torcida” ou apenas um discurso repetido em massa, plantado por um fanático em grau maior, apenas para marcar posição ao preterimento do técnico em favor de jogadores de outros times, ou para esconder a fustração pela perda da seleção que muitos achavam iminente, e depois dizer: “Eu não estava torcendo pro Brasil mesmo!”?

Lembro que, há alguns anos, coordenando as bibliotecas de uma instituição de ensino superior, a cada mês, entre exposições e atividades culturais, decorávamos as bibliotecas de acordo com as datas folclóricas do período, procurando assim manter vivas tradições nacionais, como por exemplo Cosme e Damião, que a cada ano perde espaço para os halloweens da vida. Ou ciclo do milho que começa com o plantio no dia de S. José (19/03) e termina na colheita, no dia de S. João (24/06). Mas enfim, calhou de termos Copa do Mundo naquele ano e resolvemos decorar também as unidades com esse motivo.

Na biblioteca de Sociologia os alunos se revoltaram e rasgaram e destruíram enfeites, pois o futebol é o ópio do povo, e afinal eles iam (ainda vão) fazer a revolução. Mas, fora isso, no centro acadêmico da mesma faculdade, uma TV transmitia os jogos para alguns de nossos “Ches”.

Uma propaganda de página inteira no jornal de sábado anunciava: "Brasil, nunca deixaremos de acreditar em você, faltam X meses para o hexa."

Agora o assunto se volta para as Olimpíadas 2016 e a Copa do Mundo de Futebol de 2014, ambos no Brasil. Muitos são contra, pelos gastos, pela corrupção, por motivos políticos. Sou a favor. Pelos empregos que serão gerados, pelas obras, principalmente de infra-estrutura, que hão de permanecer após os eventos. Afinal, Barcelona não passava de uma cidade portuária com os infindos problemas que os portos acarretam a estas cidades, mas soube capitalizar a Olimpíada e reinventar-se a ponto de hoje ser uma das cidades mais modernas do mundo. Cabe a nós aproveitarmos a oportunidade de melhoria de nossas cidades, ao invés de destruir as coisas belas que já tivemos, para dar lugar a avenidas, como o Palácio Monroe (que foi construído para a Exposição Internacional de Saint Louis, em 1904, a primeira obra de arquitetura brasileira reconhecida internacionalmente).

Adaptando o verso do poeta-cantor: Que a força da grana seja usada para erguer, e não para destruir coisas belas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Caídos do Céu

Esta semana ia falar sobre a escrotidão humana, sobre a arrogância e prepotência, mas... não vale a pena, vale?

A escritora austríaca Marie Von Ebner Eschenbach já disse: "Quem cede é o mais inteligente. Nisso se baseia a dominação universal da estupidez".

Fazer o quê?

Bem...

Falarei de um filme, um filme peruano, que assisti há vários anos, mas que ainda hoje está entre meus favoritos. E soube, informalmente que iria ser apresentado em uma mostra de cinema latino, então, caso isso se confirme avisarei aqui aos que possam interessar-se.

Caídos do Céu / Caídos del Cielo - Dirigido pelo peruano Francisco Lombardi. Ficção. 119 Min. Peru/Espanha. 1990.


Sempre gostei dos filmes crus, que mostram a realidade pura, ainda que em obras de ficção. Claudio Assis, em Amarelo Manga e ainda mais em Baixio das Bestas, sabe fazer isso como ninguém, por aqui. Baixio das Bestas mostra um nordeste tão real que sai do cinema tenso e assim permaneci por horas. Almódovar antes de "Oscars" e outras tantas premiações chegava a tanto, continua fabuloso, continuo fã, mas já está bem diluído do Almódovar de uma década.

Mas enfim, vamos a "Caídos do Céu".

Três histórias são contadas paralelamente e humor, tragedia social, amor e conflitos são apresentados escancaradamente em cada uma das histórias, que mostram três gerações, na Lima (Peru) doa anos 1980.

Dois idosos outrora abastados, mas arruinados pelas reformas políticas e sociasi dos anos 1970, perderam o filho, e vivem de alugueis, um dos quais o inquilino é um radialista que se envolve com uma mulher em um relacionamento inusitado e conflituoso.

Enquanto isto, duas crianças que vivem com a avó idosa, cega, e marcada pela desventura, são envolvidas por ela mesmo em um ambiente de revolta, violência e desesperança.

É um filme para estomagos fortes, e acredito, extremamente desaconselhado para uma doutoranda de cinema da Éca, com quem conversei certa vez, à época do "Carandiru", de Hector Babenco, dizia ela: "_Ah, mas o Brasil não devia fazer esse tipo de filmes, a gente (sic) tem tanta coisa bonita pra mostrar." Bem, era ela a doutoranda, e diante deste argumento melhor calar...

Caídos do Céu é um filme sobre como se sobrevive, quando a vida é tirada, quando pouco resta além de manter em pé o corpo. Um livro sobre "sinas" porque destino é outra coisa.

O trailler de caídos do Ceú pode ser visto em: http://www.youtube.com/watch?v=mXc16TmT9Z0&feature=player_embedded#%21


Ilustração: Cartaz de divulgação do DVD - imagem da internet: http://www.quedepeliculas.com/cartel-200801/200801112107_02187400-pelicula-caidos-del-cielo.jpg