quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dai de comer a quem tem fome.


          A participação no evento era de 95% de mulheres, o que supõe meiguice, calma  e sensatez, mas  com certeza, quem já conhece uma praça povoada por pombos, como a Plaza de S. Marcos em Veneza ou a Biquinha em S. Vicente, e viveu a experiência de jogar milho/ração aos pombos, não iria estranhar o coquetel de abertura.
Várias mesas dispostas em um salão não tão grande, comidinhas e bebidinhas finas dispostas entre arranjos de flores coloridas, sob a luz relaxante de um lustre de século e meio atrás, que pendia do teto branco e refletidas pelos cristais do lustre e de espelhos ao redor da sala, dava amplitude ao um turbilhão de mulheres famélicas se descabelando por um pouco de ração.



            O mesmo se repetirá nos dias seguintes, nas pausas para o café, ou como costumam dizer os adeptos do anglicismo, nos coffee-breaks, onde vi uma moça à minha frente ter a xícara de café derrubada por uma senhora que cortou a fila, empurrando a enorme bolsa sobre quem estivesse à frente, e como resultado ainda do desespero, a coitada que estava na fila educadamente, teve a mão queimada. Como digo as vezes, tem gente que se aproveita da idade para ser mal-educada.

            Pessoas que tem nível superior, trabalham com informação, cultura e pelo visto... Tem fome...

            A Educação, o glamour da ocasião, o bom senso são deixados de lado e... Oba!!! Comida!!!

            O vestuário um show a parte. Imediatamente à minha frente, uma zebra pálida, como a tintura do cabelo, que ornava com o perfume mais doce que já senti. Ao lado, bem próxima, entre  profusos e enormes babados multicores, repousava sobre o colo d’outra uma bolsa preta, enorme, de um material que não sei se era sintético ou pele de algum animal. Quase me atirei em cima da dona pois acreditei piamente estar sob ataque de um guaxinim. Bem, com a fauna e flora estampadas na roupa e o dourado das correntes e outros ornatos, não seria de estranhar. Certamente Clóvis Bornay chamaria o estranho look de “Esplendor da fauna e flora no reino de El-Dorado”.  Em meio a elas, homens de terno, de calça e camisa sociais, um rapaz com bata já um tanto surrada assim como o Jeans chama atenção. Tem gente que também se aproveita da idade pra ser mal-educado.

          Não me admira a colocação de uma amiga: “Não usava uma roupa desta nem pra lavar a casa com muita água sanitária.”
        
           Um outro, antes do coquetel,  ao notar na ponta oposta do salão, onde a orquestra executava uma peça  de Malher, uma notável da área corre pelo salão de piso de madeira, com passos fortes, fazendo barulho semelhante a cascos de jumento. Junta-se a ela, e tome horas de papo fútil.
 
              Ah, a subserviência e o puxa-saquismo... O que seria dos que amam paparicos, sem eles? E tome papo durante a sessão de música clássica... Ai de mim...

Foto: Djair - Tapete de Corpus Christ, feito com alimentos - Morro do Ferro - Oliveira - MG

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Urgente - Utilidade Pública

Uma amiga está com leucemia aguda e precisa de doação de sangue e plaquetas, urgente.
Conto com o apoio de todos vocês.
Abaixo estão todos os dados.
Obrigado, um abraço e fiquem com Deus.

Doação de sangue e plaquetas direcionada a:
Angela Maria Marcondes Machado de Barros - internada no Hospital Santa Cecília.

Postos de doação de sangue:

- Hospital do Câncer, fica na rua Prof. Antonio Prudente, 211, próximo ao Metrô São Joaquim.
Horário: de 2ª a sábado, das 8 às 17 h

- Hospital Edmundo Vasconcelos, fica na rua Borges Lagoa, ao lado da AACD, próximo ao Hospital do Servidor do Estado.
Horário: de 2ª a 6ª, das 8 às 17h

- Hospital do Coração, fica na rua Abilio Soares, 176 - Paraíso.
Horário: de 2ª a 6ª, das 8 às 17h

- Clínica de Hematologia de São Paulo, fica na av. Brigadeiro Luis Antonio, 2533.
Horário: de 2ª a sab, das 8 às 17:30h

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Leopardos, ou gatos pardos?

Hoje pela manhã, jogava um partida de buraco enquanto lá fora o sol tímido em conluio com o vento frio não convidava a fazer nada além disto. Sobre a mesa, coisinhas gostosas para beliscar e nas mãos uma boa jogada.

Assino o jornal apenas de sexta-feira a domingo, pois mais que isso não consigo dar conta no decorrer da semana, de tempo já escasso. Foi, quando de repente, ouço no rádio a notícia do ataque de um grupo de jovens classe média alta a um casal de rapazes que passeavam pela Av. Paulista.

Noticias assim sempre me chocam. Sejam elas sobre universitários (?) do interior perseguindo alunas acima do peso, machos no cio a perseguir moças de vestido curto em universidades, filhos de gente abastada ateando fogo em índios para se divertirem, idiotas a bradar morte a nordestinos, gentinha em altos postos a humilhar funcionários negros ou presidentes de democracias a expulsar ciganos. Ou ainda campos de concentração onde se exterminam pessoas de etnias, religião ou pensamento diferente da que o status quo da sociedade dominante permite.

Em São Paulo, maior cidade da América do Sul, não é a primeira vez que tal fato chega aos jornais. Há alguns anos, um outro rapaz, domador de cães, foi morto em plena praça da República, no centro da cidade. O domador de cães não se livrou das feras bípedes e somou-se às estatísticas policiais. O mesmo ódio, o mesmo tipo de perseguição, vários contra um ou dois.

Lembro que há uma década, quando eu fazia faculdade, um colega, de outra turma, mas com quem mantenho contato até hoje, voltava de uma festa com o namorado e foram também agredidos por uma dessas hordas, em um vagão de metrô da linha verde (ramal que percorre a Av. Paulista). Quando as portas se abriram na estação seguinte à que foram abordados correram e procuraram os guardas da estação, que falaram que isso acontecia mesmo, etc..., sem o menor interesse em apurar nada. Não seria apenas passar um rádio e parar o trem na estação seguinte, para se averiguar? Mas para quê? Afinal, tratavam-se de homossexuais.

E assim a coisa vai, de seguranças que acham que gays devem apanhar, a juízes que julgam que leis de proteção a mulheres perseguidas, seviciadas, humilhadas e espancadas são descalabros...

Esta semana ainda fez-se estardalhaço sobre o caso de um rapaz de 18 anos que foi preso por beijar um garoto de 13. E tome críticas, acusações de estupro, etc... E se fosse um rapaz e uma garota de 13? Não os vemos aos beijos o tempo todo?

Assim como os padres gays, na nova caça às bruxas, são chantageados e expostos em praça pública por crianças de 17 anos... Ora, e os padres héteros? A questão primordial para igreja não deveria ser a quebra do celibato? Porque, para a lei comum, só é pedofilia se o caso é homossexual? Vende mais jornal?

Um jogador de futebol, que morou em frente a uma amiga, tinha uma postura homofóbica que disseminava para filhos e esposa, e esta última, sempre com comentários travestidos de piadinhas jocosas, falava ai, ainda bem que meu marido não gosta dessas coisas. Deus me livre. Entretanto, grande parte de nós (minha amiga que morava em frente e sua família, mais um grupo extenso de amigos) sabíamos de seus relacionamentos com pelos menos dois outros homens.

Um primo, em primeiro grau, que sempre se valeu  todo tipo de discriminação possível, e fazia questão de bradar aos quatro ventos sua posição, não nos surpreendeu quando soubemos de um “casinho”, com outro rapaz, inclusive, bem folclórico e conhecido na cidade.

Não consigo acreditar que quem realmente está bem resolvido com sua sexualidade vá perder tanto tempo e energia se preocupando com a opção sexual do outro. Mas parece que para resolver esses problema íntimos, os acometidos por essa forma de insegurança pessoal que leva ao ódio ao outro, ao invés do diálogo ou terapia, vão da verborragia estúpida aos ataque físicos chegando a causar mortes. O ódio está onde? De onde vem? De dentro, óbvio, mas porque se manifesta? Porque o outro faz aquilo que se tem vontade? O outro representa sua frustração em não conseguir aceitar-se? Ou em ver que o outro, apesar de diferente da maioria, consegue ser mais feliz?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não adianta chorar, Leite Derramado ganha Portugal Telecom de Literatura 2010.

 Seguindo uma brilhante trajetória, “Leite derramado”, o livro de Chico Buarque, foi o primeiro colocado no Prêmio Portugal Telecom de Língua Portuguesa que, neste oitavo ano  de existência, teve inscritas 408 obras.

Jô Soares, apresentador da premiação, deu a ela um caráter de talk show, como o faz em seu programa noturno na rede Globo de televisão.



 Perguntado se achava-se um  "escritor amador" por ser mais conhecido como cantor e músico, respondeu:  "Eu não me considero um escritor amador, mas as pessoas consideram. Isso é bom." "Eu acho que se for ver um ator ou apresentador de TV lançar um livro, talvez eu também achasse que não é uma literatura de qualidade”, alfinetou.

 Desde que Chico publicou o seu primeiro romance, "Estorvo", já passaram 20 anos. "Leite Derramado" conta a história de um velho, com mais de 100 anos, preso a um leito de hospital, de onde relata, a quem quiser ouvir, a história de sua vida e, por extensão, a história de um determinado Brasil.
  
“Outra Vida”, de Rodrigo Lacerda, e “Lar”, de Armando Freitas Filho, ficaram com o segundo e terceiro lugares.

 A jornalista espanhola Pilar Del Río, viúva do escritor português José Saramago (1922-2010), recebeu um troféu - a árvore com copa de letras, o mesmo dado aos três vencedores - e falou sobre o marido, ao lado da escritora Nélida Pinon, amiga de Saramago que participou desta edição do prêmio com "Coração Andarilho", que por sinal chegou a ficar  entre os 50 semi-finalistas. 

 Pilar, a Fundação Saramago e Companhia das Letras, editora do escritor no Brasil, retiraram da lista o livro "Caim",  de Saramago, que estava entre os 10 finalistas. Conforme declarou sua mulher, esta é uma atitude que “está mais no espírito de Saramago, que defendia o privilégio da partilha com os seus pares”. Esta decisão foi tomada “de forma a serem reconhecidos outros autores de língua portuguesa” e vai ao encontro do que José Saramago, ainda em vida, já o expressara. Após a entrevista, foram apresentadas cenas do documentário "José e Pilar", de Miguel Gonçalves Mendes, que emocionaram a platéia.

Perguntada por Jô o que tinha achado do filme, Pilar arrancou risos ao dizer que havia gostado muito pois que as interpretações eram ótimas.

Criado em 2003, o prêmio Portugal Telecom agracia obras específicas e não o conjunto delas, nas categorias: romance, conto, poesia, crônica, dramaturgia e autobiografia, escritos originalmente em língua portuguesa, com primeira edição no Brasil, entre 01 de janeiro a 31 de dezembro do ano anterior.


Fotos: Djair - Pilar Del Río e  Nélida Piñon  são entrevistas por Jô Soares e discorrem a respeito de Saramago.
Chico Buarque e Rodrigo Lacerda posam com os trófeus.
 Pilar del Rio, logo após a premiação.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Vaidade, acendendo esta fogueira

Ah, a vaidade...
No filme, “O advogado do diabo” – (The Devil's Advocate)* - John Milton, personagem de Al Pacino repete na cena final: “_Ah, a vaidade... Meu pecado favorito!” E porque não o seria? Conheço pouquíssimas pessoas desprovidas de vaidade. Seja ela física, intelectual, profissional, familiar, ela sempre está presente. Seja na roupagem fashion, da beleza fulgás, no estilo clássico do orgulho ou nos andrajos do desprendimento.
A mais comum nos dias de hoje é a da beleza plástica, onde a aparência física leva ao consumo de grifes, suplementos alimentares, e muita, muita tintura de cabelo. Movimenta salões de beleza, academias e lojas de cosméticos, seja na Oscar Freire (rua de comércio fino em SP) seja no recôncavo baiano. Não importa, se o momento é de boom financeiro as pessoas estarão a consumir grifes e produtos que as deixem mais belas e prontas a se exibirem em vitrines fashion (bares, restaurantes da moda, shoppings, cinema e casas de shows) onde vão às vezes mais para serem vistas, do que para consumir cultura, lazer, comida ou ver amigos. Se o momento é de crise, é necessário estar minimamente bem apresentado para conseguir (ou manter) um emprego.
 Sempre digo que o que acaba com uma mulher é dizer: “Você está acabada!” E o que a enterra de vez é a expressão: “fulana está sofrida!”, aí então não há redenção. É como o “boazinha”, que acaba de vez com qualquer possibilidade de se ser interessante. O mesmo que “bichinho de goiaba”.
Em outros a vaidade é intelectual, e pode ser tão chata quanto a beleza metida à cara dos outros. Até porque como já dizia Machado de Assis: “Existe muita besteira muito bem dita, assim como muito idiota muito bonito.” Às vezes se perde a mão e no intuito de mostrar o quanto se sabe, o quanto se conhece a respeito de tal ou qual assunto, o interlocutor fica chato e a conversa vira um monólogo sem fim.
Sábia, Danuza Leão aconselha no seu Na sala com Danuza: “Se alguém fizer uma viagem e falar sobre um restaurantezinho em uma cidadezinha, que você já conhece há séculos, não fale nada, deixe-a brilhar!” Não sei se são estas exatamente as palavras, mas o sentido, sim. Nunca esqueço que uma vez, voltando de Barcelona, uma colega perguntou como tinha sido a viagem e, antes que eu terminasse a primeira frase, uma terceira pessoa já estava contando como tinha sido a sua, feita alguns anos antes. Calei-me e ouvi, apenas isto...
Tenho uma tia, pobre como Jó, que se achava injustiçada pela sorte e usava sempre a frase: “Pobre com muito orgulho!” Deixou-a de usar quando uma vez lhe perguntei se ela não tinha nada mais do que se orgulhar. Orgulho de ser pobre? Isso é condição e não conquista!
Tem aqueles que viram todos os filmes, leram todos os livros, sabem de cor os nomes dos personagens, diretores, trilha... Mas há diferença entre ser fã e ver para arrotar conhecimento. Conheço uma pessoa que tira férias todos os anos para ver a mostra de cinema e já teve problemas oculares pela maratona de no mínimo três filmes por dia. Não consigo ver isso como prazer, mas como obrigação. E a troco de quê? Para falar: "Vi todos os filmes da mostra”? Tô fora! Equivale a quem se endivida em cartões, cheques especiais e crediários para usar grifes. E o diabo, é que nem sempre vestem Prada!
Outros se vangloriam da família. Porque minha família é ótima, minha família é perfeita, os meus filhos isso, o meu marido aquilo... Bem, em geral essas pessoas comentam podres de outras famílias, geralmente da dos cunhados, sobrinhos, primos... E escondem o da sua. Sempre perfeita, como num comercial de margarina. Tenho amigos aos quais cheguei a invejar o tratamento familiar, mas nunca ouvi deles este “orgulho”. Eles vivem isto. Não precisam proclamar em alto brado retumbante.
Conheço uma pessoa, uma só, mas devem haver muitas outras, que tem uma casa linda, decorada por decoradores profissionais, onde tudo é tão asséptico, tão organizado, lindo e limpo que dá a impressão de um espaço montado para fotografar. E ela se orgulha disso, mas não curte a casa que tem. Apenas a exibe aos outros, encaixando no texto o nome do arquiteto. Não valeria mais curtir o espaço mesmo que não combinasse o puff com o sofá, ou que não estivesse em perfeita harmonia o lustre com o biombo chinês?
Ah, a vaidade... A vaidade é o diabo... Eu que o diga... E fico por aqui, pois preciso ir ao cabeleireiro.

    * O advogado do diabo” – (The Devil's Advocate) 1997 Dir. Taylor Hackford, EUA,  Drama 143min 
    Foto:  Cristiane Camisão - Detalhe da bancada de penteadeira da Casa de Laura Alvin - Casa de Cultura Laura Alvim - Ipanema - RJ