terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Confraternização? Vou não!

                Sem tempo para fazer balanços ou reflexões. Muito menos promessas de fim de ano que serão quebradas ao raiar o ano novo do calendário Gregoriano.

                Como tenho dito por ai, ando mais aperreado que jumento de cego em estrada nova, e é verdade, tudo se acumula nesses finais de ano, como já disse na postagem do final do ano passado, porque não diluir pelo ano inteiro essa necessidade de ver, tocar, estar...?

                E tome confraternização, inclusive com gente que nem gosta da gente e vice-versa, já que em geral, isso é recíproco. Já vi até gente que sai da copa na hora do almoço quando entra alguém de quem não gosta. Levantam-se e em tom sério: “_Dá licença que eu vou comer na minha sala.” Para não dividir o mesmo espaço, e agora, com as bênçãos de Noel, quer marcar almoço de confraternização, amigo secreto, lanchinho da tarde etc...

                Outra, que passa o ano sem me ligar, tem por costume querer passar em casa pra deixar uma lembrancinha. Ora, se não lembrou o ano inteiro de ligar para saber como eu estava, porque lembrar agora?

                Gente que nunca entrou em minha sala quer marcar de sair... Tem certeza de que é comigo?

                Estranhamente, gente que não quer marcar nada, não precisa comemorar nada, se faz presente o ano inteiro. Um sorriso, um almoço juntos, uma mensagem em redes virtuais, uma ligação se falto ao trabalho por motivo de doença para saber se melhorei...

                Uma mensagem no celular, um comentário no blog, um e-mail... Estão ali... E bravamente insistem cotidianamente em se fazer presentes, em mostrar que não estou só. Obrigado a eles que não precisam que o ano acabe, que o natal chegue ou que seja meu aniversário!

                Como diria uma personagem de humorístico semanal:

                Ele é chato? Ele é! Ele é mal-humorado? Ele é! Ele é ranzinza? Ele é!

                Feliz Natal, o blog volta ano que vem!


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Na cartilha, no trem, na ilha...

“Bitu era pequeno, pequeno...
Fofinho era gordinho, gordinho...
Mas Zecão era grande, muito grande...”

E aí...

Aprendi a ler...

            Sim, foi com a história dos três cabritinhos e da onça gabola...
           
            Vieram daí a pouco os livros de comunicação e expressão, que era como chamávamos a matéria ora denominada “Português”: o nome da língua, da última flor do Lácio, inculta e bela, como disse Olavo Bilac. Lembro bem do livro João-de-barro de Domingos Paschoal Segalla. Foi ele que seguiu às cartilhas. E depois vieram outros de autores e títulos que se perderam na memória e lembrarei no futuro, quando não puder lembrar o que se passou há cinco minutos. Isso se Deus não permita que o Alzheimer vier visitar-me. Mas, lembro bem de alguns textos e personagens que davam cor e sabor a eles.

            Lembro de um texto que detestei, uma turma estava à mesa de uma lanchonete e o personagem, de cabelos vermelhos e cheio de sardas, era descrito como o Gordo... “O gordo tirou meleca do nariz e colocou embaixo da mesa dizendo: O lado de baixo da mesa é feito para colocar meleca...”

Mas lembro também de outro texto delicioso, pura aventura, que discorria sobre o prazer de andar de bicicleta, onde o personagem descia correndo pela Alameda Nothmann, o vento batendo no rosto da personagem a fazer-lhe os cabelos esvoaçarem...

            O tempo passou, a quinta série chegou, e com ela: “A Ilha Perdida” de Maria José Leandro Dupré. O primeiro livro de romance, assim, inteiro... Era o livro de férias, para ser lido nas férias de julho. O primeiro... As letras não eram grandes, as gravuras, como chamávamos as ilustrações, muito poucas. Mas... Que delícia... Não foi preciso mais que poucas páginas para apaixonar-me. A história de Eduardo, Henrique, Simão e o macaco Lucas, fisgou-me por inteiro.



            Áquele ano, fomos passar as férias na casa de minha tia Hercília, em Guarapari, no Espírito Santo. A viagem de trem, de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço mineiro à Vitória, capital capixaba, margeava o Rio Doce. Hoje não sei a quantas anda o rio, mas à época, anos 1970, era largo, portentoso, de águas barrentas, correnteza forte, inúmeras ilhas fluviais... E nelas imaginava os personagens, recriava “A Ilha Perdida” e, na utopia que criava, enlevado pelo prazer do livro que levava às mãos e alternava com a paisagem, também eu era personagem.

            Outros livros vieram, à mão cheia, centenas deles, várias histórias, mil nuances... Mas este, o primeiro, ficou para sempre gravado à alma. E é por ele e por professores queridos que vieram depois, Dona Maria das Graças, e Profa. Lenir no Schmidt, Tamina Oka Lobo no Nobel, que incentivaram-me a ler, a escrever, que, no “frigir dos ovos” como diz minha mãe, tornei-me bibliotecário e estou aqui a escrever. Obrigado por ler.

Foto: Internet - Divulgação


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lê pra mim?

A foto é antiga, em um preto e branco desbotado, onde o branco é amarelado e o preto... Claro.

Eu aos 5, 6 anos... Magrinho, e com os olhos tristes, como ainda hoje são. Deus podia ter tido melhor humor e ter alegrado o olhar e ter mantido o corpo magro, mas enfim, quem entende seus desígnios...

Na foto seguro nas mãos um exemplar de: “Lico, o coelhinho”. O pequeno livro tinha a forma estilizada do láparo que lhe intitulara. Não recordo sua história, mas a cara/capa do coelhinho/livro ainda é nítida em minha mente. Um verde claro, embora obviamente não existam coelhos verdes, mas isso não tinha a menor importância. O nariz era vermelho, redondo, de plástico, como fosse uma pequena bola cortada ao meio e colada no meio da cara, cheio de miçangas para que fizessem o barulhinho característico delas quando o livreto era balançado.

Detalhe... Eu não sabia ler.

Àquela época, ler era coisa que só se aprendia no primeiro ano primário, aos sete anos de idade. Era minha mãe, ou meu pai, que sempre o liam para mim. E aos cinco, seis anos, não se cansa de ouvir a mesma história. Uma, duas, dez, dezessete vezes...

Ás sextas-feiras, dia de pagamento, meu pai sempre chegava em casa com uma revista feminina para minha mãe. Uma Capricho ou Claudia, Contigo ou Ilusão, Grande Hotel ou Sétimo Céu. Ou algum especial só de fotonovelas. E para mim sempre vinha com um gibi. O fato de eu ainda não ler era menor. Devorava as figuras, fossem de Disney, ou a turma da Mônica, Brazinha ou Riquinho.

Na capa, invariavelmente a dedicatória, que era a rubrica de meu pai, que forma um coração, e dentro dele, nossos nomes. Ah, as folheava comendo as figuras, fingindo ler. Sei lá se vem desde esta época a mania de folhear revistas de trás para frente que dura até hoje...

Meu tio Raul, à época o mais querido dos tios, era livreiro. Logo, meus primos tinham coleções de livros infantis, tantos e tão ilustrados que eu ficava excitadíssimo quando ia visitá-los, por manusear e encher os olhos com tantos e tão belos desenhos. Como eram mais velhos, e já leitores, meus primos em uma das férias passadas em sua casa, em Santos,  eram quem liam para mim. Pinóquio, Alice no País das Maravilhas, Cinderela, Dumbo, e por aí vai... Pela manhã atravessávamos a rua e íamos a praia, tia Lourdes nos levava pela mão, voltávamos à hora do almoço, e depois de tomar banho na enorme e aconchegante banheira, almoçávamos e fazíamos a siesta.

Acho que foi nesse tempo também, de descobertas e ansiedades, que apaixonei-me por peixes e aquários. Meus primos tinham um lindo aquário de vidro redondo, repleto de conchinhas e com peixinhos dourados. Na entrada do prédio, um arranha-céu como se dizia nos anos 1970, de pastilhas e estilo art-deco, havia também um enorme laguinho com fonte e inúmeros (pelo menos para quem também ainda não sabia contar) peixinhos coloridos. Lembro de um senhor de bigode branco e poucos cabelos sob o chapéu, que colocava sempre uma folha de palmeira na água: “_Para fazer sombra para eles”, explicava-nos.

Foi aí também, acredito hoje, depois de tantas rememorações, que se deu certa aversão... Quando de minha primeira ida ao cinema, fomos Juninho, Gislaine e eu... Naquela época o Gonzaga (bairro onde meus tios moravam) era cheio de cinemas e podíamos ir às matinês sem sustos ou preocupações. Era uma fita estadunidense, de guerra... Falado em inglês, e com legendas, que nada significavam para mim, que ainda não conhecia o alfabeto.

Escuro, cenas de guerra, uma língua estrangeira... – Talvez more aí minha aversão também ao idioma. Pedi que me lessem e eles explicaram que não podiam ficar falando no cinema, insisti que não entendia, convenceram-me quando disseram que se lessem ali não me iam ler os livros de histórias à noite... Resignei-me até dar vontade de ir fazer xixi... Não podia, se saíssem iam perder o filme... Talvez eu tenha chorado...

Felizmente não perdi o gosto pelo cinema, mas não precisam me convidar para ver filmes de guerra.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Café com leite e um pedacinho de paraíso.


                Hoje pela manhã, Sônia e Enzo falavam em café com leite; logo me veio a vontade. Uma caneca de ágate enorme, cheinha de café com leite, bem clarinho,  quente... Na verdade em minha utopia ela está em minhas mãos e estou ao lado de um fogão a lenha apreciando a chuva que cai lá fora... É uma reminiscência infantil, buscada em antanhos, quando do aniversário de 38 de minha mãe, sobre o qual já falei aqui no blog. Mas na verdade, não da festa e sim de dias antes. Íamos com seu Darcy, vizinho da frente, que tinha um armazém, onde comprávamos. Tinha ele parentes que moravam em uma fazenda nos arredores de uma cidade da região, e foi onde fomos buscar dois cabritos a serem sacrificados para a festa...
 
                Aquela excitação infantil por ir à fazenda nos fêz acordar de madrugada; de criança apenas eu me levantei de pronto, William, filho de seu Darcy, e meu irmão não acordaram, ou melhor, não levantaram, e eu fui a única criança a ir. Estava escuro ainda, garoava... Chegamos sob chuva que durou o dia todo. A fazenda, na região do “vale do aço”, em Minas Gerais, naqueles idos dos anos 1970, já plantava eucaliptos, e é essa a imagem preponderante daquele sítio... Eucaliptos, escuro, chuva... 

 
                Fazia frio e fomos recebidos pelos moradores na cozinha, pelo menos é o que me lembro, mas já não sei se foi por ali que entramos, e ali estava um fogão à lenha, com fogo aceso, quentinho, aconchegante... E talvez por anos ainda mais distantes, quando visitávamos meu tio Lourival, o mais pobre e mais querido dos irmãos de meu pai, onde havia em sua casa um fogão de lenha que lamentei anos mais tarde ter sido desfeito, me senti em casa. Perto do fogo... E talvez, sabe Deus, é daí que venha minha paixão também por fogueiras. 

                Lá fora a chuva caía e nos serviram, em canecas de ágate, café com leite de cabra, produção local, caseira... Deliciosamente quente, doce, forte... E é esta a imagem que sempre vem a minha mente quando tomo café com leite, seja em casa, seja na padaria acompanhada de um pão na chapa. É a imagem que me veio da conversa de Enzo e Sônia. É o que mais forte está em mim, embora também goste de café com leite no prato, em cima de um bom pedaço de cuscuz amanteigado, para comer/tomar de colher. E agora peço licença mas tenho que ir ali, tomar um café com leite e comer um pão na chapa com a alegria destas lembranças.

                     Foto: Dionísio Pedro da Silveira - casa da tia Maída (Margarida Silveira) na roça, vista do sítio do João de Deus e Inês. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

E o palhaço, o que é???

              “Abelhinha, abelhinha, bota mel na minha boquinha...” Era uma das brincadeiras antigas que os palhaços faziam no circo em minha infância. Eram circos pobres, que iam pelas cidades dos rincões, levando alegria e diversão. A lona muitas vezes era furada, pobres como nós, sua plateia. Ficávamos a mais das vezes nas arquibancadas de madeira, sem forração, lisa pelo sentar e levantar do público. Era o ingresso mais barato, e onde estava a maior animação, e quando ficávamos nas cadeiras de plástico, mais próximas ao picadeiro, a maioria dos colegas estava do outro lado da corda que separava os dois assentos. Então a arquibancada garantia também mais risadas, pois não é quem ri por último que ri melhor, como diz o ditado, mas sim, ri melhor quem ri acompanhado. Na verdade, cadeira mesmo só quando acompanhado pelos pais, quando com o resto da molecada, nas matinês dos domingos, a arquibancada era o trono!
                Bailarinas, na maioria das vezes acima do peso, mas em uma época em que a ditadura da magreza ainda não reinava absoluta e curvas tinham mais valor do que a finura sem contornos, como a das tábuas das arquibancadas. Trapezistas, que veiculavam histórias de quedas que teriam ocorrido em outras cidades. Assim como fuga de leões magros e elefantes desidratados. A essas histórias crescíamos os olhos. Pios que éramos em nossa ingenuidade infantil.
                Pipoca era o banquete principal, maçã do amor a sobremesa divina, e existia também uma maquinazinha que descascava laranjas tirando a casca em fios finíssimos, tirados à custa do girar de manivela. Depois dos shows podíamos comprar amendoim e dar aos elefantes; o plural é gentileza minha, pois ao mais das vezes era apenas um único animal. Aos leões, dizia-se que davam gatos que roubavam pela cidade.
                Mas os palhaços, sempre tinha um anão entre eles... Um tempo em que acessibilidade era palavra que não existia. Em um circo ou outro eram vários os que se apresentavam. Na maioria das vezes devo confessar, ranzinza desde criança, não achava-lhes graça, diferente de amigos meninos que viam graça em palhaços até pela TV. Daí o sucesso do Bozzo no antigo programa do SBT. Outros tinham pânico, nunca gostaram deles, salvo erro, o Javas era um deles, confessou já adulto.
                Nunca ficaram gravados os nomes dos circos, mas lembro de vários deles, o local, um detalhe em particular. O dia, e se era tarde ou noite, de uma vez que chovia a cântaros na saída, de minha prima Socorro já mocinha, em um vestido vermelho, presente de minha mãe, dentro do qual despontava seu corpinho de menina transformada em moça há muito pouco.
                Hoje, pelos grandes centros, os circos que restaram são imensos, com espetáculos grandiosissímos, e dá-lhe "Cirque Du Soleil", e outros de grifes tão famosas quanto, e de repente me recordo que na infância o mais famoso por esses tristes trópicos era o “Orlando Orfei” - que nunca vi, mas um dos que citei acima e não recordava, se chamava  “Orlando o feio”! Numa paródia risível!  Bem, os pequenos circos ainda existem e resistem, ainda arrancam sorrisos, gargalhadas e "Ohs!" aos bons bocados. Chegam onde a diversão e o dinheiro são curtos, e não importam lona furada, bailarina de meia desfiada, ou se o leão é desdentado. Mas se o mágico serra a mocinha, se o palhaço mostra a cueca, e se tem pipoca maçã do amor e mentex!
                E é isso, hoje tem marmelada? Tem sim senhor. Tem texto no blog? Tem sim senhor. E o redator o que é? Saudosista é o que é...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2011

            Mais uma vez a Casa Fasano, no Itaim Bibi, Zona Sul de São Paulo, esteve lotada, repleta de gente, poesia e romance. O Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa divulgou os vencedores desta nona edição.
            Depois de “O Leite derramado”, de Chico Buarque de Hollanda, arrebatar o primeiro lugar o ano passado, desta vez foi o romance "Passageiro do fim do dia", Editora Companhia das Letras, de Rubens Figueiredo, a estar no topo dos 371 livros inscritos nesta edição. Rubens Figueiredo é carioca, professor de português e um renomado tradutor de obras russas. Rubens afirmou, durante pequena entrevista: "Eu só começo a escrever quando tenho alguma coisa para dizer". Tímido e discreto, Figueiredo recebeu o prêmio com poucas e emocionadas palavras:  “_Fico muito feliz e só consigo dizer isso: me desculpem o mau jeito!”

            "Passageiro do fim do dia” se passa dentro de um ônibus urbano que leva Pedro a casa de sua namorada, em um bairro pobre de uma cidade fictícia. Durante o percurso, o personagem mistura recordações com as imagens e cenas que acompanha do ônibus.
            O escritor português Gonçalo M. Tavares, com o romance "Uma viagem à Índia" (Editora Leya), ficou em segundo lugar. Seguido por  Marina Colasanti, com o livro de memórias "Minha guerra alheia" (Record).
            O prêmio avalia romances, contos, poesias, biografias e dramaturgia em português, publicados no Brasil.
            Entre os 10 finalistas, divulgados em setembro passado, constavam dois escritores portugueses e oito brasileiros. O primeiro lugar recebe um prêmio no valor de R$ 100 mil, o segundo de R$ 35 mil e o terceiro de R$ 15 mil.

            Os dez finalistas do prêmio neste ano foram:
 Rubens Figueiredo, com "Passageiro do fim do dia" (Editora Companhia das Letras)
João Tordo, com "As três vidas" (Editora Língua Geral)
Gonçalo M. Tavares, com "Uma viagem à Índia" (Editora Leya)
José Castello, com "Ribamar" (Editora Bertrand)
 João Almino, com "Cidade Livre" (Editora Record)
 Marina Colasanti, com "Minha guerra alheia" (Editora Record)
 Alberto Martins, com "Em Trânsito" (Editora Cia das Letras)
 Elvira Vigna, com "Nada a dizer" (Editora Cia das Letras)
 Ricardo Aleixo, com "Modelos Vivos" (Editora Crisálida)
e Donizete Galvão, com "O homem inacabado" (Portal/Dobra Editorial).

            O Júri Final foi formado por:  Luiz Ruffato, Benjamin Abdala Júnior, Maria da Glória Bordini, Antônio Carlos Viana, Eneida Maria de Sousa, Regina Dalcastagné, Lourival Holanda (Curador), Maria Esther Maciel (Curadora), Regina Zilberman (Curadora), Zelma Caetano (Curadora Coordenadora).

Fotos: Djair -   Rubens Figueiredo segundo antes de ser anunciado ganhador.
                        Os premiados, diretores da Portugal Telecom e os apresentadores do prêmio.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O não fazer...

     Muito se fala do ócio criativo. E o ócio destrutivo? Aquele que nos deixa incapazes de executar qualquer tarefa, nos incapacita inclusive de pensar? Bem, o que nos leva a este estado de inércia? Daquilo que nada agrada, nada satisfaz, nada dá alento? “Non, je ne regrette rien.”

    O que causa essa incapacidade mental que se estende aos músculos? Em época de doenças psicológicas dirão logo: “Isto é depressão.” Afinal a doença deste início de século é esta e suas companheiras, transtornos bipolares, síndromes de pânico e por aí teremos uma enorme gama de outros distúrbios catalogados nos códices e index Medicus.

    Há alguns anos trabalhei com alguém que reclamava o tempo todo da instituição. Naquele tempo, eu era uma pessoa mais ativa e dinâmica, e cheguei a oferecer vários tipos de novos trabalhos, que sempre eram recusados com a frase: “_Eu até gostaria muito de fazer isso, mas no momento não!" Tratava-se de uma pessoa que era versada em línguas, com texto conciso e interessante, mas limitava-se a um trabalho mecânico, que poderia ser executado por um aluno de quinta série. A ela apenas interessava a arte, o cinema, o teatro... E eu a admirava, até perceber que não passava de Blague. Uma máscara para ocultar a mediocridade e evitar todo e qualquer tipo de trabalho que lhe tirasse o mínimo da rotina, cultuada a extremos. Com certeza uma patologia...


    Outros tipos, esses clássicos, são os que nunca conseguem dar conta das coisas que tem a fazer, sempre a bradar: “_Ah, não consegui terminar tudo que eu tinha pra essa semana”, ou dia, ou mês... Mas... Observe atentamente; estão sempre ao telefone, MSN, ou qualquer outro afazer que não o de cuidar o trabalho que lhe foi entregue. Realmente este é um clássico!

    Bem, isso difere daquela preguiça que nos acomete, a todos, vez em quando, a vontade de ficar na cama e de preferência que alguém nos traga ali o café, com leite, com um bom pão de queijo e um belo bolo. O que me lembra uma amiga que disse sonhar em ter uma bandeja destas de pé, na qual se leva o café na cama... Perguntei-lhe porque não comprava e ela na lata responde: “Por que não vem com alguém junto para fazer e levar o café!!” Mas esta preguiça, é diferente, gostosa e benéfica, se ficamos na cama, logo estaremos com um livro à mão, um filme aos olhos ou elocubrando futuros que desejamos, e que a partir daí serão transformados em realidade. Ou não! Enfim, é uma higiene mental. Aliás, lembro no primário que tínhamos um momento após o recreio, que eram alguns minutos dedicados à higiene mental, cujo objetivo era nos acalmar, porque no recreio mesmo nossas energias afloravam, em correrias e gritos, um estado de excitação que não cooperaria em nada para o aprendizado de matemática da aula seguinte. Era um momento de silêncio onde esvaziávamos (pelo menos a intenção era esta) a mente.

    Sinto falta destas coisas, aliás, sinto falta de Educação Moral e Cívica e religião nos currículos escolares. Afinal, hoje pais não passam muitos esses valores aos filhos. E estudantes ocupam reitorias de universidades para protestar contra a imposição de leis seus campus, como se ali fosse um estado paralelo onde as leis nacionais não atuassem. Mas essa é outra discussão, o tema inicial já divagou tanto quanto as interrupções sofridas no decurso em que escrevia esses parágrafos; enfim aí estão algumas reflexões e o blog manteve sua periodicidade.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Histórinhas mal-cheirosas

                Mira era conselheira de uma instituição em que trabalhei, uma senhora séria, por trás de seus grossos óculos de acadêmica; já não dava aulas, mas trabalhava em pesquisas particulares e da tal instituição da qual era membro. Escritora laureada com inúmeros livros publicados recebera vários prêmios de literatura.
                Entre outras citações de sapiência, ficou na memória o ensinamento: “_Ah, eu gosto muito de caminhar logo depois do almoço, a gente fica o dia sentada, e essa hora é ótima pra andar e eliminar os gases.”
                Dia destes fui a uma festa, em uma cidade a cerca de 300km; junto, um amigo que fazia a estrada parecer curta, e íamos rindo, contando e inventando histórias, possíveis, impossíveis, e pelo riso incessante... Risíveis.
                Tudo correu bem e a festa para crianças foi um sucesso, doces, pipocas, brincadeiras, refrigerantes, bolos, sanduiches. De lá fomos ao sítio de outro amigo, que ficava na localidade, vinho, churrasco, queijos, presunto...
                Na volta aquilo tudo começou a pesar, mais que o escuro da Rodovia Raposo Tavares, mais que a chuva que caía...
                Dores lancinantes dos gases pressionando órgãos internos, já nem ria mais das besteiras que eu mesmo falava, dos casos que ouvia.
                Por sorte, o amigo que estava de carona morava uma cidade antes, e assim o deixei quase uma hora antes de chegar em casa, e tão logo ele saiu do carro, os gases puderam ser liberados e as dores passaram.
***
                Claudio trabalhava em um grande centro de documentação. Àquele dia, já final de tarde sente a pressão dos gases originados a partir da feijoada do almoço. Sabe como é, feijão preto, couve, torresmo... A comilança foi boa, tanto que seu abdômen lembrava o do porco que comera... Sentindo-se aperreado, subiu ao depósito superior, onde ficavam apenas revistas antigas e onde portanto dificilmente alguém ia até lá... Passou pelo primeiro corredor de estantes, pelo segundo, pelo terceiro, e no quarto decidiu: estava longe de qualquer ser vivente...
                Aliviou-se, sem estrondos... Uma careta talvez... Mas... Sabem como é, gases costumam ter odores, e esses eram perigosamente fétidos...
                Bem, já estava aliviado e resolveu descer ao setor, quando vem chegando ao final do corredor, ali, na quarta fileira de estantes de acervo histórico, que ninguém solicitava... a Margarida, moça bonita, que trabalhava em outro setor, aliás, chefe de outro setor.
                Ele apenas continua seu caminho, respondendo sério e preocupado ao cumprimento da moça, que se direciona para o fundo da quarta fileira de estantes...

***
                Conheci Zilá quando morava em Santos, ela uma cafuza original, arroxeada, cabelos lisos, baixinha, rosto redondo, com um sorriso constante nos lábios e uma jocosidade em todo seu gestual. Morava em um amplo apartamento já nas imediações de São Vicente, quinhão que lhe coube na separação do marido, estrangeiro que já não me recordo a naturalidade, e que se apaixonara pelos traços nativos e que segundo ela já devia ter voltado à sua terra.
                Segundo a própria, separaram-se por um peido...
                Lembro-me de ter ficado estupefato e quis saber: _Mas como assim?? E ela não se fazendo de rogada disse que um dia, já depois de alguns anos de casada, estava ela na copa arrumando algo, que nem lembro e nem vem ao caso, enquanto o marido assistia televisão na sala.
                Em determinado instante ela solta um “Pum”, que pelo andar da história saiu em alto brado retumbante... Prrrrrrrrrrrrrummmm. E o marido pergunta: _Que foi isso? Ouviu um barulho! Ela responde:_Um pum. E ele parte ao ataque em tom ríspido: Isso é uma falta de respeito, má-educação! E na minha terra o marido larga a mulher se ela faz isso! Ela não tem dúvidas: _Ah, é? Pois então leva essa pra sua mãe: Prrrrrrummmmm!!!! Leva esse pro teu pai: bruuuuuuuum! Leva esse pro teu irmão: Puuuuussssssh!!!!
                E assim ele pediu a separação alegando que a esposa não respeitava o marido. O juiz deu a ela o ganho na ação pelo direito ao imóvel, já que não via ali motivo de separação. Ela prosseguiu a vida, contente e já sem gases.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reflexões sobre a morte... Sobre quem fica...


            A morte de mais uma amiga, esta semana, me fez novamente pensar na morte. Já comentada em postagem anterior*.
            Recentemente, em viagem a Portugal, conheci em Évora a capela dos ossos, que se localiza em anexo da Igreja de S. Francisco. Suas paredes e pilares são revestidos com ossos e crânios, ligados por cimento pardo. As abóbadas de tijolo, pintadas com motivos alegóricos à morte. Foi calculado o número de ossos em torno de 5.000, provenientes dos cemitérios anteriormente situados em igrejas e conventos da cidade. À entrada, a frase: "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos"., que nos lembra a transitoriedade da vida.
            Este ano, perdi algumas pessoas próximas, pela mesma causa, o câncer... Mas voltando à morte em si, para mim, em minha visão pessoal é o término de um ciclo e o inicio de uma nova jornada. 
            Geralmente vamos aos enterros pelos que ficam, para de alguma forma tentar consolá-los e reconfortar, e não exatamente por quem partiu. Nesse último, fui exatamente por quem partiu. Apesar de saber não estar mais habitando aquele corpo inanimado, quis render-lhe minhas últimas homenagens em forma de preces e recomendações, a que costumamos às vezes chamar interseções. Penso muitas vezes no dia em que perderei meus pais, coisa que cedo ou tarde há de acontecer se o curso natural (os mais velhos na frente) for seguido. E penso que será uma tremenda dor e estarei ainda mais sozinho... E logo busco afastar o pensamento, como se diz, para não “agourar”.
            Ainda este ano, a esposa de um amigo nos deixou. Por serem ateus, só soube depois do enterro; não houve velório, não houve missa, não houve portanto modo de render-lhe homenagem alguma... Que é também como encaro o rito. Cada qual segue o rito conforme sua crença, ou falta dela. Eu, pessoalmente, faço minhas preces e não gosto de ficar - como alguns - o tempo todo falando sobre como o finado vai fazer falta, que isso e aquilo. Rendo minhas preces e que ele siga em paz.
            Em alguns velórios, conta-se piada, já fiz isso inclusive, e fato,  me agradaria se fizessem no meu, relembrando passagens alegres com os que viveram comigo. Mais do que lágrimas, que me deixariam mais triste, isso me faria feliz. Então, se estiver no meu, lembre-se do texto da Francinete** e dê boas risadas. Aliás, no meu funeral ,gostaria que só fossem mesmo pessoas que realmente tem apreço por mim. Nada de chefes que vão só para cumprir obrigações sociais, nada de gente que não me gosta ou aceita. Vão ao bar, ao cinema... Por que perder tempo com defunto que nem gostam?
            Em um velório que estive, uma das donas do defunto, em prantos, foi acalmada, consolada, e mal enxugava as lágrimas, lhe veio a chefe que tinha ido bater ponto  e lhe pedir que, assim que chegasse em casa, lhe mandasse um e-mail com tal e qual trabalho...
            Outros vão a velório como evento social, procurando se mostrar íntimos do defunto, com o qual muitas vezes sequer tinham afinidade. Creiam, já vi isso. E acham que ninguém percebe... A falta de naturalidade é tão flagrante que a coisa toma ares de ridículo, e a ópera bufa continua., com falsos abraços em pessoas que sequer conhecem, enquanto o defunto fresco ao lado vai lentamente se decompondo.
            O puxa-saquismo também está presente na hora da morte, ou algo justifica o recebimento de 162 coroas de flores ao velório da ex-primeira dama Ruth Cardoso?
            A mãe de uma amiga que queria ir morar no interior, onde aquela dava aulas, porque com o pai, que era divorciado da mãe há alguns anos, agonizante, levou-o para junto dela, e, vindo a falecer, o velório foi imenso, os  amigos da filha compareceram em peso. A mãe encantada queria um velório igual.
            Diz minha mãe: Quem tiver que fazer algo por mim, faça agora, depois que eu morrer pode jogar no monturo ou enterrar dentro da rede, que tanto faz. Mas muitos que ficam, erguem enormes jazigos, em mármore como era uso outrora, ou os enterram em cemitérios modernos que mais lembram jardins e parques. A cremação ainda não é tão usada no país, e sempre lembro-me de que Cazuza, o cantor, meu herói da adolescência que morreu de overdose, queria ser cremado, e que suas cinzas fossem jogadas no Arpoador... Não lhe respeitaram o desejo.
            O único fato é que todos vamos... E enquanto não vamos, em Évora, os ossos que lá estão, pelos nossos esperam.


Foto: Djair - Umbral da capela dos Ossos - Évora - Portugal

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Para não passar em brancas nuvens, já que o dia está nublado...

            Bem, como já estão fartos de ouvir-me e ler-me a falar de Lisboa, vamos a outro assunto, que os seguidores são poucos, e os leitores menos ainda; e não posso dar-me ao luxo de perdê-los.

            Hoje é um daqueles dias nublados, onde além do céu, os pensamentos estão cinza e difícil extrair alguma coisa decente desta cabeça grisalha. Então, como o leitor atento já percebeu, comecei meio que enrolando, enrolando pra ver se surge um mote, que seja digno de desenvolvimento, ou que como por encanto a musa do lusco-fusco pisque e me sorria fazendo brotar do cinza um ramalhete multicor. Mas a massa cinzenta está de greve, como os correios, como os bancos, e não se move, como uma grevista que adere à greve do outro por simpatia.

            Imagino como seja para os grandes escritores, e para os cronistas diários, que têm de sacar um texto pelo bem ou pelo mal, a cada exigência das editoras, do anunciante... Redação foi uma das minhas matérias preferidas no ginásio e no colegial, tanto que várias vezes fazia as minhas e as dos outros, chegando a trocar tarefas com a Horteny, morena lustrosa, sempre preocupada se o cabelo estava armado. Eu fazia suas redações, ela meus trabalhos de física. Aliás, física era um saco, se Renato Russo odiava química, eu abominava física, quase tanto como sua comparsa... Educação física. Lembro do Igor, professor do Schmidt, um rapaz bonito, simpático, por quem as moçoilas se encantavam, bela estampa, belo bigode... Mas... professor de física... E de uma didática que seguia um movimento um tanto retrógrado... Ou talvez, nós é que nos esforçávamos de menos... Enfim tornou-se em pouco tempo o mais odiado do colégio e durou apenas um ano letivo por lá...

            Bem, até hoje não fiz uso, consciente pelo menos, da física aprendida e esquecida naquelas cadeiras verdinhas das mesas novas, presenteadas ao velho colégio àquele ano... Gostava bem mais de redação e história. Acho que por isso divago tanto... Bastam cinco minutos de conversa enfadonha, de palestra chata, de apresentação de slides repetitiva para eu me dispersar... Como diz uma música do Balão Mágico, antigo conjunto infantil da década de 1980: “Eu vivo sempre no mundo da lua...” Aliás, falando em Balão Mágico, a cantora mirim virou apresentadora de programa infantil, cresceu, virou pelada da Playboy, caiu no esquecimento, virou “evangélica”, casou com presidiário, freqüentou programas que exploram imagens de celebridades e sumiu de novo, quem sabe surgindo daqui a um tempo como astronauta... Nunca se sabe... Afinal como a protagonista de Oswaldo Montenegro, em “A dama do sucesso”, que morre ao pular de um prédio, em um incêndio famoso, ela em close, e voando pra morte a gritar: “Ah, como o sucesso é gostoso!!!”


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Lisboa


               Diferente de cidades que não amam suas águas, o rio Tejo corre azul, vivo, piscoso, cheio de vida, contrastando com o azul claro do céu que faz da paisagem naturalmente fotogênica uma obra de arte. Você está andando por uma rua qualquer e de repente olha para ocidente... E lá está ele, impávido a correr ao mar...

                Quem olha Lisboa a partir de Cacilhas vê torres de  palácios, castelos e outras edificações, em pedra e mármore, em bronze que tornou-se azul pela ação da maresia (.....); a paisagem nos compele a exercitar a arte da contemplação. Nada mais é preciso fazer em Lisboa... Apenas contemplar. Pois onde quer que se vá, qualquer beco por que se entre, darás de cara com uma igreja secular, um chafariz, uma praça, um parque, um largo, e de repente olhas pra um prédio (eles não passam dos cinco andares a mais das vezes) e ali haverá uma placa: “Nesta casa nasceu Fernando Pessoa – Poeta Português”, ou “Nesta casa viveu Eça de Queiroz”, e aí, lógico, vamos “pagar” uma de turista e tirar uma foto... É claro!


                Um lugar onde se chama trens de comboios, estações de paragens, e vagões de carruagens, é um lugar pleno de poesia; afinal a última flor do Lácio ali brotou, e continua a florescer lá, e em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. A língua está viva, firme, forte... Fora isto, se ouvem pelas ruas de Lisboa todas as línguas do mundo - gente de toda a Europa vem aproveitar o sol Lusitano, e dourar-se em suas praias, e então o melhor horário para visitar os museus de impressionantes acervos, e os monumentos e palácios, castelos e suas mil maravilhas, é logo pela manhã, quando todos estão às praias.

                Na Freguesia do São Vicente, mais exatamente na rua de S. Tomé, o largo/praça tomou o nome de Jardim das Pichas Murchas; “pichas” se o leitor tem dúvida do que se trata, basta excluir o “H” da palavra e terá em português do Brasil o substantivo em linguagem chula, a que nos referimos. Bem humorados, ao contrário da preconceituosa imagem que rezam por cá, o largo tomou esse nome por galhofeiros, dentre eles Carlos Vinagre, por ali juntarem-se os velhotes que se encontravam no largo a fim de jogarem a tradicional ‘sueca’. Ali, descendo a rua, várias senhoras sentadas, viúvas, flores murchas, e quando estamos a atravessar a praça, uma delas, a que na foto tem a sacola aos pés,  assim do nada... abre a garganta em som altissonante e põe-se a entoar um fado. Pode haver coisa mais bucolicamente bela ao ouvidos de um turista desavisado? Aliás, quando as vi, ali sentadas, ingênua e romênticamente acreditei serem as pichas, flores, e uma referência às viúvas (assim acreditei que eram) que descansavam a sombra, e eram flores murchas por serem viúvas... As vezes a imaginação é bem fértil.

 
                Uma das coisas a que se tem que tomar cuidado em Portugal são os doces, tantos e bons que cada região tem a sua especialidade.  E os pastéis de Belém... Bem, quem os comeu por cá naquela esfiharria que os proclama, nunca comeu um pastel de Belém, mesmo porque os de Belém são vendidos em uma casa  próxima do mosteiro dos Jerônimos, a mesma que o José Domingos Costa, português de nascença e autor entre outros livros de "O senhor major" e que sabe fazer pastéis de nata, recusa encarar como autênticos pois segundo ele os melhores são os de Marianita; no entanto, dos que comi, não comi nenhum outro igual ao de Belém. Até porque ali, e apenas ali, pude tê-los comidos quentes. Fora eles, há os Fofos de Belas, os travesseiros de Sintra, as queijadinhas de Évora, as bolas de Berlim, e por aí a fora. Não surpreenda-se dos quilos a mais na volta...

                Os castelos e palácios abundam por Portugal, e algo me deixou pasmado... Seus museus... Não sei porque não são tão divulgados, se o acervo de cada  um deles é  fantástico. No Museu Calouste Gulbenkian, peças do Antigo Egito, marfins medievais, estupenda coleção de cerâmica e tapeçaria do Oriente Médio, móveis franceses, coleção de pinturas com Van Dyck e Monets entre elas, jóias, esculturas e por aí vai... Os imensos jardins do museu (na verdade dois museus, abrangidos pela fundação homônima - um de arte moderna que não visitei por não ser do meu agrado, como digo: parei nos impressionistas., e outro com a coleção do próprio sr. Gulbenkian), seus jardins, seus regatos, fontes e farta arborização, me levam a crer que ali nasceu a idéia de Inhotim, museu fazenda em Minas Gerais. No Museu Nacional de Arte Antiga, coleções de ourivesaria e joalheria portuguesa, vidros portugueses, artes orientais com suas porcelanas e... uma coleção fabulosa de Pintura européia, entre elas, As tentações de Santo Antão, de Bosch... Não precisaria dizer mais nada, mas tenho que citar ainda uma tela de Murillo, meu sevilhano preferido, o pintor barroco está ali também representado, e gosto meu, um dos melhores.


              Poderia ficar horas a descrever os palácios, a gente, a comida, a música,  seus azulejos, as ruas com suas calçadas de pedra (portuguesa), que espalharam a cultura lusa por cantos do mundo - quem não as  reconhece no calçadão de Copacabana, por exemplo? Mas o espaço é pequeno, o leitor pode já estar entediado, então uma última coisa sobre Lisboa: Vá!

Fotos: Djair - Lisboa vista a partir de Cacilhas.
                   Monumento a Fernando Pessoa em frente a casa onde este nasceu.
                      Jardim das Pichas Murchas.
                      Detalhe de um dos muitos desenhos das calçadas

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Saudades Cedo


Lisboa...
A rima óbvia e fácil... O fonema boa...
Difícil fugir, quando se apaixona por passear em suas ruas
A tomar sol
A deitar-se nos bancos de seus recantos
Sombra e vinho fresco...
Lisboa dos queijos e do bacalhau. Embora a este, de fato retirem todo o sal.
Não faz mal...
E não faz mal à saúde, assim como não o fazem os doces.
Pastéis de nata, e os de Belém,
Os da Mariquinha, os da Lusa...
Parentes próximos e,
Para eles, que tem  aguçado o paladar - e o gosto pela polêmica - tão diferentes
E os doces que chegam dos arredores.
Travesseiros de Sintra
Fofos de Belas...
pra comer com vinho do Porto.
Ou cafés abatanados
Sejam ou não
A ouvir fados.
Ladeira acima – Cidade alta
Ladeira abaixo – Rossio
Mil escadinhas – Alfama
Afinal são sete colinas...
Como Roma!
Qualquer caminho
Qualquer desvio
Leva a um encontro
E um novo encanto...
Palácios, fontes, chafariz, torres
Igrejas, bondes, arcos
E dependendo de onde te escondes
Se perto do Tejo... Barcos
Gaivotas, sob um céu azul anil como de cá.
É verão.
A brisa traz sons e cheiros
Seja da Mouraria, ou dos Correeiros.
Leques, chapéus, bengalas, lenços
Pelas ruas divergem tanto quanto as falas
Daqui, dali, de acolá.
Museus de acervos soberbos e jardins magníficos
Gente de toda cor
Música de todo o lugar...
Lisboa:
Queria agora ser profundo como o Tejo
Pra conseguir expressar de maneira clara o que desejo
Que em Lisboa e arredores
Acredito em dias melhores.

25.09.2011-09-26 Voando sobre a África. E Já com saudades!
Foto: Djair - Lisboa, vista do alto do Castelo de São Jorge.

domingo, 11 de setembro de 2011

Recesso

As publicações no blog voltarão a apartir de outubro!

Aproveite para ler (e comentar) os textos antigos!

Lisboa está a render ótimas histórias, em breve no:  Prajalpa!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Vida de escola: trotes, apelidos, bola...

               Semana passada o texto do blog sobre bullying ficou na cabeça pelo resto da semana, outros “causos”  me vieram à mente... Alguns que na verdade mostravam o preconceito dos pré-conceitos sem nos darmos conta, como no caso da Dulcinéia, esta no primário, onde eu e um colega cujo nome se perdeu no tempo (não havia jingle com o nome dele para guardar na memória) atormentávamos Dulcinéia, morena lustrosa que já tomava formas de menina moça, e prometia ser uma mulata belíssima. Andávamos aos grudes os três, mas para atormentá-la, devido aos grossos lábios a chamávamos Mané-bicudo. E não satisfeitos, colocávamos as mãos no ombro contrário, formando com os cotovelos um “bico” que abríamos e fechávamos a cantarolar a “musiquinha” que  me fez gravar seu nome para a posteridade: “Eu não gosto da Dulcinéia, ela é Mané Bicudo.” Como vêem, a letra é de um primor absoluto, fundamental, primordial. Estávamos aí no terceiro ano primário do Grupo Escolar Padre Deolindo Coelho” em Coronel Fabriciano – MG.
 
                Lembrei-me também de Conceição, antiga vizinha, a quem devido o corpo de miss Etiópia (Sim eu sei, mais pré-conceito e piadinha de mau-gosto – como diria um personagem de humorístico televisivo : Ai como eu tô bandido!), mas voltando à magreza da Ceiça, a chamávamos de... “Esqueleto da maçonaria”, ao que a cada vez que seu Anthenor, vizinho nosso, que era maçon, ouvia, respondia: “Na maçonaria não tem esqueleto!”
                Daí fui as rememorações de colégio, e voltei ao velho Afonso Schmidt em Cubatão, e ao Jorge, inspetor de alunos que carregava um molho de chaves todo o tempo, na verdade acho que nasceu com ele, mas enfim... Ele o carregava chacoalhando o tempo todo, daí a alcunha de “Jorge Cascavel” foi um processo natural. E quando o colégio foi reformado, com entulho e escombros que sobravam por todo lado, fizemos dois “túmulos” juntando terra, restos de tijolos, etc... e colocamos uma cruz em cada um, com os nomes de outras duas inspetoras, Bia e Isabel... Jaime que era ótimo arrumou sabe Deus onde, um rato (enorme) morto que depositou sobre a cova simbólica de uma delas.
                Terminada a reforma, alunos convocados para ajudar a lavar o prédio “novo” num sábado. A farra de água foi bárbara, meninos contra meninas, lembro que corremos ao banheiro e elas não se intimidaram, Ana Angélica caindo na risada, apontando o mictório e perguntando pra que servia aquilo...

                Jogavamos “Malha” nos intervalos, que consistia em jogar bolas improvisadas, onde cada um só podia dar um toque na bola, e se, após o chute, ela batesse em alguém (ou se desse dois toques), essa pessoa era esmurrada até chegar em um “pique”. Os murros mais fortes sempre eram das meninas.
                Era um tempo bom, inocente, em que a classe inteira ia correndo para o refeitório, só para que a classe ocupasse todos os lugares, todo mundo junto. Na época circulava um comercial da Maggi, com o jingle (de novo essa palavra, sim, estou ficando repetitivo): “maggi, maggi, maggi, maggi para a mamãe eu sempre peço, caldo maggi é o segredo do sucesso! Maggiiii!!!” Pois bem, D. Lourdes, ou “tia” como todos a chamávamos, nos servia sempre de bom humor e era um doce; a Classe inteira nas quatro enormes mesas que compunham o refeitório e fizemos nossa homenagem com a versão adaptada da mensagem publicitária musicada (agora ficou bonito): “Vaggi, vaggi, vaggi, vaggi, vaggi para a titia eu sempre peço: A Lavagem é o segredo do sucesso! Vaggi!” Foi hilário ver a cara dela, que saiu correndo atrás de nós com uma colher de pau na mão!!!
                Bem, é isso, lembranças, acabou-se o que era doce... Mas ainda me rende gargalhadas só de lembrar... Vaggi!!



Foto: Internet Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Afonso Schmidt
Autor: Marcelo Donizete Morelatto

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Alcunhas

Esta semana estava a pensar sobre Bullying, o mal da moda. Ao qual eu e milhões sobrevivemos, sem nomear com anglicismos os apelidos, chacotas e  tirações de sarro na escola... É certo que hoje há as agressões físicas e outros males maiores, mas em meu tempo de colégio, até onde sei, eram apenas gozações e alcunhas não tão apreciadas por quem era designado por elas.
Em casa, com os irmãos, eram comuns os apelidos, que nas brigas ganhavam a rua, uma vez proferidos em alto brado retumbante e ouvidos pelos filhos dos vizinhos. Em casa mesmo, nas rusgas, eu era chamado de baleia, que dispensa explicações endócrinas. Já meu irmão, o “apelido carinhoso” era “penico”, que teve diversas variantes por anos a fio: “penico azul”, “penico do Bonfá”, em referência a um senhor já idoso, dono do cartório no bairro, e antes que me perguntem, não faço idéia de porque o escolhemos por dono do “penico”. Isto era nos idos dos anos 1970, quando as pessoas realmente ainda usavam penico. E também teve a clássica: “E ai penico, já virou sifão”?
Na EEPSG Afonso Schmidt, entre a sexta série e primeiro colegial, as vitimas eram em geral de outras classes. Zuleide, uma garota loura e muitíssimo branca, era a que tinha mais espinhas em todo o colégio, daí a “cara de sol” ou sua variante “cara de fogo” foi um pulo. Tinha a Sueli 200 gramas, que no ano seguinte, após as férias,  conseguiu engordar e virou Sueli 201 gramas. Mauro, este sim, de nossa classe, era um garoto que sempre parecia meio sujinho, portanto, porquinho lhe coube bem a ponto de todo o colégio chamá-lo assim, e ele atendia de boa. As irmãs Etevalda e Etelvina logo viraram horrível Valda e horrível Vilda. Bartira, professora de geografia era Madame Min, em referência ao cabelo cortado com serrote ao estilo da bruxa de Disney. Tinha a “cara de ovo” que depois descobrimos serem “as cara de ovo” pois eram duas, gêmeas idênticas...
Saímos do ginásio sem grandes traumas, a faculdade... Bem, esta é mais recente e algumas pessoas da época lêem o blog. É melhor esperar mais tempo para falar sobre ela, que sim, deixou traumas e inimizades entre vários.

Mas, por falar nisso, qual era mesmo seu apelido de infância?

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Quintal



Sempre quis quintais
Pra plantar
Pra colher
Pra correr

Ligar a mangueira e regar
Banhar
Bagunçar

Brincar com o cão
Jogar bola
Cair no chão

Tomar banho de chuva
Colher laranja
Matar saúva

Brincar de balanço embaixo do abacateiro
Comer fruta no pé
Colher pimenta de cheiro

Tanquinho ao invés de aquário
Ouvir sabiá
Ou canário

Plantar horta de couve
Acender fogueira
Seja ou não
Tempo de João.

Jogar bola de gude
Colocar a mesa no quintal pra almoçar fora
E em noites bonitas
Ouvir, tocar viola

Varrer com vassoura de palha
Ou mesmo piaçava
Se vem vento, o cisco espalha

Uma hora o vento acaba
Assim como vai o tempo de goiaba
De laranja, caquí e mangaba

Mas ai vêm outras frutas
Ou é tempo de taioba
Ou é hora de podar

Pegar os ovos nos ninhos
Fazer festa jogando milho
Em quintal grande
Sem impecilho

Tanta coisa a fazer
Tanto jeito a dar
Mas se tudo é prazer
Melhor vida não há

Foto: Ana Carolina Bracht Moura de Souza - Galinha do Giba no quintal dos pais dele!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Espreguiçando!!!

Esses dias de agosto tem sido malemolentes, preguiçosos mesmo... Não o ócio criativo que tanto proclamam, mas aquele tipo de ócio que só quer descansar, e quando você pensa, que fazer? Vem logo a idéia “exercitar a arte da contemplação” e nada mais...

Tudo cansa... Pensar dói...

Acho que já citei em outro texto, mas cito de novo: Dirceu (Ari Fontoura), personagem de Mar de Rosas, de Ana Carolina, o dentista louco por sangue, está sentado, posto em sossego e Nióbi (Miriam Muniz), a esposa, diz a ele: “Você precisa agir Dirceu, AGIR!!!" Dirceu ergue os olhos para ela e simplesmente reponde num esguar, sem levantar-se: "Agir... Agir, detesto essa palavra: Agir!"

Estou assim.

Detesto essa palavra.

Não tanto quanto o preguiçoso de “ABC do preguiçoso” de Xangai, que tem preguiça de levantar-se até para transar com  a esposa. Não, mas aquela necessidade de ficar quieto, dedicar-me a leituras, a ver séries e filmes, a cuidar de plantas, arrumar casa. Mas pra isto tudo é necessária certa disposição, não? Siiiim... Então chego à conclusão que não é exatamente preguiça, mas necessidade de recolhimento, acolhimento, o cansaço que sinto de tudo não é físico, e essas coisas, as quais sinto vontade de fazer, como se dizia no tempo de primário são: Higiene mental!

Por outro lado, que higiene mental melhor que happy hours? Pois é, mas nem pra isso me mostro disposto, a despeito dos cafés e cervejas devidos aos amigos em encontros prometidos e não marcados... Vou empurrando com a barriga, que pela vontade que tenho tido de comer doces deve estar maior a cada dia.

Mas, compromisso é compromisso, e me comprometi, comigo mesmo, a escrever um texto novo para esta semana. Aqui está, sem grandes tiradas, sem novidades, sem histórias engraçadas, mas que escrevi com aquela malemolência gostosa, a mesma com que se toma café ralinho com quitanda feita em casa e se tira uma meia hora de prosa e que se deixa estender por horas, erguendo-se apenas para ir ao bule e re-encher o copo. Foi gostoso de escrever. De ler... Só você pode dizer.


Foto: Djair - Quarto de Laura Alvim - Casa de Laura Alvim - Ipanema - RJ

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Não é pau, é pedra! E não é o fim do caminho!

Em uma dessas novelas de realismo fantástico que fizeram sucesso nos anos 1990, com seus personagens de fazer inveja a Dalí e Buñuel, Cândido Alegria (Armando Bógus) acaba por transformar-se uma estátua de pedra. Aliás a novela tinha por título: Pedra sobre Pedra.
 Por mais surreal que possa parecer a cena a cada vez mais me parece verossímil...  “S” dia destes, depois de um período de dores lancinantes causadas por cálculos renais, expeliu uma enorme pedra, que pelo tamanho divulgado, rezo, pelo seu bem e de sua namorada, não tenha causado estragos maiores na uretra e no “pedúnculo” por onde este canal passa.
Tania e Carol, ambas tem tanta afinidade, apesar de verem-se pouco, que resolveram as duas a um só tempo criarem “Pedras” na vesícula... Ou será um novo tipo de passatempo e/ou modismo? Mas o fato... As pedras estão lá... 
Há pouco mudei de dentista, após mais de 6 anos com a mesma, a nova me tirou tártaro suficiente para o baldrame da “Igreja do Horto”**. Segundo Sílvia, o processo de formação do tártaro é o mesmo dos cálculos renais.
Ou seja, pra virarmos pedras, falta pouco... Será pelas pedras mentais que nos atiram constantemente? Ou porque não nos penitenciamos em longos jejuns, e procissões com pedras na cabeça, por nossa culpa, nossa tão grande culpa, nossa máxima culpa?
Afinal se pedras crescem dentro de humanos, santos de pedra vez por outra se dão a  chorar,  madonas que choram lágrimas nem tão amargas como as de Petra Von Kant, e as vezes outros santos, outras pedras com maior traquejo nos efeitos especiais sangram em suas chagas...  
Caso oposto causou uma menina da Malásia anos atrás ao chorar pedras, no caso, cristais... Parece que no fim se provou que era farsa, afinal o que causa sensação atraí repórteres, estudiosos, cientistas... E nesse caso, eles foram uma pedra no meio do caminho...
Mas enfim, em Rins, Dentes, Vesiculas... Elas aparecem... Crescem... E nem sempre são dissolvidas, ou extraídas...
Antes fossem as pedras do Ibraim Abi-Ackel**
Mas enfim... A falta do que escrever essa semana era uma pedra no sapato, e agora... Aí está! Preguiçoso? Ruinzinho? Nada a ver? Quem atirará a primeira pedra?
 
* Templo de Salomão citado na Bíblia, sinônimo de edificação de proporções incomensuráveis.
** Ministro da Justiça no governo Figueiredo, acusado de envolvimento com o tráfico internacional de pedras preciosas (Mais tarde, foi inocentado...).
Foto: Djair - Fonte de Pedra em Tiradentes MG.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

E que a minha loucura seja perdoada...

Nietzsche enlouqueceu, Camile Claudel, que era louca por Rodin, acabou... louca! Era o meu temor na infância e início da adolescência - perder a razão, ficar completamente louco como alguns que vi na infância: Dadaia, a filha da vizinha que “perdeu o juízo” após febre altíssima, ou “o Gambá”, morador de rua que sofria de convulsões e aterrorizava a nós do bairro, que tínhamos entre sete e nove anos.
 
Tempos mais tarde, outra cidade, outro estado, Rosa, vizinha nossa, moça bonita, inteligente, dedicada à família, chegou a namorar com um primo meu... De uma a outra hora, enlouqueceu...
 
Margarida, personagem de “O seminarista” de Bernardo Cabral, enlouquece... Pronto não precisas mais ler o romance... A não ser que queiras saber, porque, como, quando...
 
O cinema, a televisão, sempre nos trazem personagens loucos, em geral a loucura é o motivo para os maus serem maus, ou o castigo que os maus recebem pelos malefícios que fazem no decorrer da trama.
Jandinha, cunhada de Lúcio, um amigo que morava em uma fazenda, cultuando a simplicidade da roça, era “descompensada”  - como se dizia em tempos que o politicamente correto ainda não era palavra de ordem. Já Lúcio meu amigo não acreditava em sua loucura. Janda não é louca, não rasga dinheiro, só é louca pra engravidar... E com a simplicidade dos puros de coração desacreditava a parca capacidade mental de Jandinha.
 
Outro dia soube por um amigo em comum do surto de um antigo colega de classe, bonito, culto, inteligente. Do nada... “Pirou”! E saiu a quebrar uma loja, a agredir pessoas, foi preso, internado e está em tratamento...
 
Renato, sobrinho de uma grande amiga, também teve um surto há alguns anos, hoje faz teatro, tendo largado a empresa do pai, onde trabalhava sob pressão para sucedê-lo. Aliás os pais não foram à formatura dele, a mãe a acompanhar o o pai em viagem de negócios... 
 
Os Orleans de Bragança... O trono seria passado de Pedro II ao neto, que enlouqueceu, o mesmo mal da bisavó, D. Maria, que carregava a alcunha: “A louca”... Não houve tempo para o treinamento de Isabel... 
 
Segue o medo... E talvez o texto acabe aqui, assim, sem costura, porque a minha loucura esteja mais acentuada hoje...