quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Na cartilha, no trem, na ilha...

“Bitu era pequeno, pequeno...
Fofinho era gordinho, gordinho...
Mas Zecão era grande, muito grande...”

E aí...

Aprendi a ler...

            Sim, foi com a história dos três cabritinhos e da onça gabola...
           
            Vieram daí a pouco os livros de comunicação e expressão, que era como chamávamos a matéria ora denominada “Português”: o nome da língua, da última flor do Lácio, inculta e bela, como disse Olavo Bilac. Lembro bem do livro João-de-barro de Domingos Paschoal Segalla. Foi ele que seguiu às cartilhas. E depois vieram outros de autores e títulos que se perderam na memória e lembrarei no futuro, quando não puder lembrar o que se passou há cinco minutos. Isso se Deus não permita que o Alzheimer vier visitar-me. Mas, lembro bem de alguns textos e personagens que davam cor e sabor a eles.

            Lembro de um texto que detestei, uma turma estava à mesa de uma lanchonete e o personagem, de cabelos vermelhos e cheio de sardas, era descrito como o Gordo... “O gordo tirou meleca do nariz e colocou embaixo da mesa dizendo: O lado de baixo da mesa é feito para colocar meleca...”

Mas lembro também de outro texto delicioso, pura aventura, que discorria sobre o prazer de andar de bicicleta, onde o personagem descia correndo pela Alameda Nothmann, o vento batendo no rosto da personagem a fazer-lhe os cabelos esvoaçarem...

            O tempo passou, a quinta série chegou, e com ela: “A Ilha Perdida” de Maria José Leandro Dupré. O primeiro livro de romance, assim, inteiro... Era o livro de férias, para ser lido nas férias de julho. O primeiro... As letras não eram grandes, as gravuras, como chamávamos as ilustrações, muito poucas. Mas... Que delícia... Não foi preciso mais que poucas páginas para apaixonar-me. A história de Eduardo, Henrique, Simão e o macaco Lucas, fisgou-me por inteiro.



            Áquele ano, fomos passar as férias na casa de minha tia Hercília, em Guarapari, no Espírito Santo. A viagem de trem, de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço mineiro à Vitória, capital capixaba, margeava o Rio Doce. Hoje não sei a quantas anda o rio, mas à época, anos 1970, era largo, portentoso, de águas barrentas, correnteza forte, inúmeras ilhas fluviais... E nelas imaginava os personagens, recriava “A Ilha Perdida” e, na utopia que criava, enlevado pelo prazer do livro que levava às mãos e alternava com a paisagem, também eu era personagem.

            Outros livros vieram, à mão cheia, centenas deles, várias histórias, mil nuances... Mas este, o primeiro, ficou para sempre gravado à alma. E é por ele e por professores queridos que vieram depois, Dona Maria das Graças, e Profa. Lenir no Schmidt, Tamina Oka Lobo no Nobel, que incentivaram-me a ler, a escrever, que, no “frigir dos ovos” como diz minha mãe, tornei-me bibliotecário e estou aqui a escrever. Obrigado por ler.

Foto: Internet - Divulgação


23 comentários:

  1. Dja...Você falou de como você aprendeu a ler e eu me lembrei de meu primeiro ano escolar: eu não parava quieta em canto nenhum da sala; andava prá lá e prá cá, sentando com um/uma coleguinha de classe e a professora (Hildete) sempre me colocava lááááá na frente ao lado dela (ai que "zódio" que me dava daquilo!!), mas eu num dava o braço a torcer, pegava minha cartilha e sentadinha com minhas perninhas balançando prá trás e prá frente, fingia que tava lendo tudooooo...tá certo que uma vez eu dormi...e professora foi falar com minha mãe, mas fora issoooo e as brigas que rolavam no recreio com os meninos...tudo bem...voltava igual a um tatu prá sala de aula!!!! Mas de resto (rs) Djair aprendi a ler e a escrever di rei ti nho, tanto que cá estou eu digitando (eu disse digitando) esse comentário...Adorei sua crônica...só não gostei da estória do menino gordo que colava meleca embaixo da mesa na lanchonete!!! ecas mil!!! Beijinho...Rô

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  2. Olá meu querido amigo...como sempre vc nos faz viajar no tempo nesse caso os dias escolares que pra mim já vao muito longe mas é sempre uma delícia ler o que vc escreve...nos chega facilmente à alma.
    Obrigada por nos dar esses momentos de encantamento...que Deus te conserve com muita saúde pra vc seguir nos encantando com teu contos.
    Bjao com muito carinho....

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  3. A ilha perdida! Tb me apaixonei pela história quando li, ainda criança! Caramba, será que as crianças de hoje ainda leem esse livro? E os outros da mesma autora que eu li e tb adorei: A montanha encantada, A mina de ouro, O cachorrinho Samba... Vixe, sessão nostalgia, rs. Bjs

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  4. "Preste atenção, fique quietinho, vamos saber onde está o patinho..." Foi c/ essa musiquinha q eu aprendi a ler...nunca esqueci...

    Meu primeiro livro foi "Meu pé de laranja lima" chorei muito c/ a morte do Portuga...rsrsr eu tinha uns 8 anos...

    Li muito a Sra. Leandro Dupré...lembra? Alguns livros ela assinava assim...

    Fase boa meu amigo..não volta mas ficou p/ sempre!!

    bjsss

    Sil

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  5. Vendo essa capa lembrei de um livro que me marcou, chamava-se Barcos de Papel.

    http://www.skoob.com.br/livro/1827

    Abraço!

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  6. Ai que saudade boa... a minha primeira experiência de "aula" foi acompanhando minha irmã, 3 anos mais velha. Lembro da carteira que era de dois lugares, tb do recreio, da professora bonita e mais nada... Só fui estudar algum tempo depois: "Caminho suave", a felicidade em ganhar o material escolar da mãe, encapar cadernos e livros... Já alfabetizada, gostava mesmo, era de ler, +/- escondida, a Coleção "Ler e Saber" da mana, que a "conservava" com muito carinho e cuidado... rsrs
    Djair, tks por compartilhar conosco, suas deliciosas recordações, que trazem à tona tb as nossas lembranças.
    bjss

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  7. Oi menininho
    No meus tempos de escola também li "A ILHA PERDIDA" e outros que agora me fugiram da memoria.
    Com tudo isso se você se tornou BIbliotecario e agora precisa escrever e um livro e se tornar um escritor
    bjs
    Menininho

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  8. Ganhei o dia hoje. Ele está um pouco cinzento lá fora. Já amanheceu assim. De cara virada. Porém, ao ler seu texto, meu coração pulsou mais forte e por alguns minutos fiquei enternecida com o passado. Puxa! Descobri o quanto sou nostálgica. Espero viver o presente da maneira como vejo o meu tempo de criança e juventude, sem sobressaltos ou dúvidas, apenas encontros e abraços sem despedidas. Lembrei-me das professoras: Maria das Graças; Lenir; Marisa; Isamar... Professor Guelri (acho que era esse seu nome) um senhor já na época! Ele e seu bigodão amarelo de tanta fumaça de cigarro. Era professor de artes, e como desenhava, era fera mesmo... tantas saudades... mais uma vez chorei. Talvez pena de mim, por não ser, ou não ter mais nada daquele tempo. Nâo encontro nem vestígio de outrora nos moldes contemporâneos. Tudo hoje me parece mecanizado. Até as conversas são tecnológicas demais para mim. Acho melhor parar por aqui com meus devaneios. Beijos Djair. Parabéns por sua memória e talento com as letras. Ana Angélica.

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  9. Hoje tomei um susto, um baque daqueles ao ouvir na reunião da minha filha Giulia que ela não sabe ler...logo me refiz do tormento e pensei, ela terá seu tempo de descoberta.bj e parabéns pelo post CrisCamizão

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  10. Da minha infância até a adolescência fui um verdadeiro "rato de biblioteca". Devorava livros! Eram mais de três por semana, incentivado pelo bibliotecário (viva!!!!). Sempre escolhia dois livros e ele me recomendava mais dois que eu pegava de bom grado e lia com a mesma voracidade! Sinto falta de um tempo para poder ler, mas ler livros. Jornais (DJE), comunicados, informações e afins não é leitura! Nada como um bom livro! Seja romance, aventura, policial,... não tem coisa igual!

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  11. Que delicia esse livro um dos primeiros que li no antigo ginásio.

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  12. e lindo Djair Souza!!! Tenho certeza que estes livros foram fundamentais pra que hoje eu fosse bibliotecária, tbm me deliciava com eles. Os meus tios tem papel crucial na minha formação, além dos livros, foi com eles que aprendi a ler jornal, tive até uma notinha publicada no Estadão aos 11 anos. Bom demais, né?! Bom demais disseminar a luz!! Rss.

    Giseli Fernando

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  13. gente voltar ao passado, e sempre maravilhoso, quantas recordaçoes, puxa. Ler livros era e é o meu ideal, porque nao le-los.Pensas que li a Ilha Perdida, A Montanha Encantada, A Fada que tinha ideias, O Cachorrinho Samba,e muitos outros. A tempo lembrei-me o quanto eu era assidua em leitura. entao comecei arrumar um tempinho para ler, dentro do onibus, faço o serviço de casa rapido, para cair na leitura. Gente,escutem, a pouco li Dom Quixote de la Mancha, nossa como eu queria ler este livro. Entao pensei,ler mais e mais. E como nos deixam felizes,viajo na leitura. Quando volto a ler a Ilha Perdida, ja preparo a minhas guloseimas, pois sinto uma fome danada, quando eles preparamo delicioso almoco com os alimentos preparados pela madrinha. Nossa ja deu-me agua na boca. Gente arrumem um tempinho, e leiam muito, por que nao existe aventura mais gostosa. abracos Djair, voce e dez. Boa viajem.

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  14. Alguém aí pode mim ajudar a adquirir a cartilha que tem a história da onça gabola e os três cabritinhos meu email geraldircg@hotmail.com agradeço

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  15. Digo ( geraldorcg@hotmail.com ) desconsidere o primeiro email

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  16. Digo ( geraldorcg@hotmail.com ) desconsidere o primeiro email

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  17. Fui alfabetizado por essa cartilha, sei a estoria toda. La longe muito longe numa casinha deserta...

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    1. TAMBÉM FUI ALFABETIZADA POR ESTA CARTILHA.POR FAVOR ENVIA ESTA HISTÓRIA DOS TRÉS CABRITINHOS PARA MIM NO MEU EMAIL!
      luciarafc@hotmail.com

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  18. São livros que marcaram nossa história. Abraço a todos que estudaram nessa época.

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  19. Boa noite! Alguém pode me dizer o nome do livro ou cartilha da primeira história, sobre os três cabritinhos e a onça gabola. É muito importante pra mim.

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  20. A onça Gabola
    Não sei o motivo pelo qual, hoje, amanheci o dia com a recordação de uma leitura que marcou a minha primeira infância. Não me recordo o título, apenas, lembro da personagem de uma onça, chamada Gabola, que minha mãe dizia que era má.
    Eu tinha muitas dificuldades com a leitura. E, esse texto, da cartilha infantil, me fez derramar diversas lágrimas em meio a soluços. Acho que cheguei a rasgar as páginas do "tão precioso livro" com as lágrimas que lá caíram... Não por causa da onça, que "era má", mas porque eu tinha medo de minha mãe que, com o chinelo na mão, me obrigava a ler.
    Lembro que eu não lia, apenas, tentava repetir, olhando para o livro, com a voz trêmula, e com os olhos cheios de lágrimas, a leitura que ela, rudimente, fazia em voz alta para eu repetir. E... quando errava a sequência, ela gritava comigo e me batia. Daí, eu sentia medo e chorava. Acho que o meu choro a deixava mais irritada ainda...

    Aquele medo me fazia ter um sentimento estranho... Via a personagem da onça Gabola em minha mãe! Eu só entendia que a "onça" era má quando eu tremia de medo porque tinha de ler. Era o momento em que eu conseguia assimilar os gritos de minha mãe, com a onça Gabola, que era má e, o chinelo dela - a famosa havaiana que doía - acomodada na mão, pronta a me acertar se eu errasse a lição.
    Não podia compreender o que era a "maudade", apenas, naquele momento, seguramente, eu podia sentir a maldade enquanto chorava tentando ler ou decorar algo que eu, simplesmente, não conseguia.
    Eu tinha trauma daquela cartilha e, infelizmente, acho que fiquei com trauma de minha mãe que, além de me fazer sentir medo, dizia que a onça Gabola era a minha gentil professora por quem eu conseguia sentir tanto carinho!

    Não era capaz de compreender...

    Afinal, ela também era professora e alfabetizava outras crianças de maneira diferente...

    Nunca soube quem foi o autor dessa lição. Só sei que eu nunca esqueci da onça Gabola. Tentei recuperar na internet, mas não encontrei em canto algum. Talvez, porque a única informação que tenha ficado em minha memória é de que ela se chamava Gabola e que carregava um adjetivo ou um advérbio que marcou a minha vida para sempre.
    Acho que, depois de tantos anos, no mínimo, eu preciso entender o porquê de um "animal" ser tão "mau" ou "mal"...enfim, preciso encontrar o "substantivo correto" para o que ficou da simples lição da cartilha de uma criança.

    Uma "história" que, esquecida no tempo, ficou guardada no meu coração e me fez trilhar um caminho que só eu posso entender.

    "A onça Gabola é má!"

    Se você lembrar, e puder, mesmo que, resumidamente, em áudio, em escrita, ou em vídeo, me conte o que sabe. Acho que estou falando do início dos anos 80, um tempo em que não tínhamos opções. Acredito que se você fez parte dessa geração ou se foi professor (a) nessa época, pode ter recordações preciosas sobre uma cartilha que me ajudará a reescrever algo que preciso e que, certamente, procuro. Sei que aquilo que é preciso reescrever vai muito mais além do significado de uma onça ser má ou não. (Re)significar dói mais do que reescrever. E... talvez eu nunca consiga!

    Afetuosamente,
    Alguém, que um dia, sentiu medo pelo simples fato de "ter que ler".

    P.S.: Por favor, não é uma corrente! É parte de uma menininha, de cabelos cor de ouro e de seu maior medo. Talvez eu nunca consiga ler a verdadeira estória da onça Gabola. Até porque eu não tenho mais a imaginação de uma criança. Embora, guardo comigo a lição do Principezinho! "História de criança" para fazer adultos entenderem que "o essencial é invisível aos olhos". Quem sabe, com aquilo que foi escuro e frio, eu poderei, um dia, contribuir para que crianças não sintam medo de algo tão importante e valioso: a imaginação na leitura.

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