Da
Memória, que cada dia insiste em guardar menos coisas, já fugiu-me o nome da persona em questão, mas apostaria as fichas que
era Antônio Cândido, então fica assim, o fato é que tinha ele tantas peças em
casa, obviamente recordações de viagens, que certa vez ouviu a seguinte
pergunta de um jornalista: São tantas coisas chamam a atenção que se de repente
ocorresse um incêndio e o senhor pudesse tirar apenas uma coisa daqui, o que o
senhor tiraria? Ele, num esboço de sorriso e com calma plena, olhou ao redor,
olhou o entrevistador e respondeu sereno: _O fogo!
Olhando meus objetos, também em parte “recuerdos” de viagens, cerâmicas na maioria, penso, de qual poderia gostar mais? Qual salvaria? E não há resposta a dar, cada qual tem uma história, um lugar, um momento vinculado a ele. Traz consigo sua origem, Teresina, Sevilha, Bonito, Lisboa... E as recordações do momento da compra, da escolha, da companhia, os presentes trazem com eles aquele que os ofertou. O carinho, a lembrança, a presença da pessoa, que algumas vezes partiu, ou já não é mais quem apreciávamos, mas que naquela hora era então tão querido e próximo.
Não
é necessário dizer que minha casa é uma miscelânea de coisas e cores, as pedras
que cato aqui, ali, acolá e as vou juntando talvez por ser louco de pedra. Um
vaso ou pote antigo que comprei em algum bazar e que para ele invento estórias,
que pertenceu a vovó Lili, que não era minha avó, a compoteira que foi de tia
Margarida, cujo nome nunca foi de tia alguma, e assim me entretenho e brinco,
comigo mesmo, pois se alguém elogia tal louça digo: comprei no bazar, as
histórias e estórias inventadas são minhas, não precisam ir além.
E assim às
vezes dói um pouquinho pensar o que será feito deles, quando eu já não os
possuir, quando não possuir um corpo ainda que os possua e não possa tomar-lhes
conta. Objetos, pedras, plantas, discos e livros... Para onde vão? Difícil
pensar que alguém gostaria deles e se importasse em mantê-los.
Enquanto esse
momento não vem, eu os curto, substituo, guardando alguns para meses depois
encontrá-los e redescobri-los, admirando-os novamente com olhar de novidade.
Afinal a casa é o lugar onde passamos maior parte do tempo depois do trabalho,
então que seja confortável, aconchegante e bonita de acordo com nosso gosto.
Nunca entendi gente que contrata um decorador que lhes impõe um gosto da moda,
também estranho muitas vezes casas muito arrumadas, como se fossem um cenário
montado para um editorial de revista. Sem personalidade, sem nada absolutamente
fora do lugar.
E assim em
casa muitas vezes o tapete nada tem a ver com a cortina, que não orna com
almofadas, que não dialoga com os quadros, mas tudo tem sua história
particular, intransferível, e se o Feng Shui não foi usado ali, as lembranças,
o carinho e o gosto puramente pessoal se encarregam de tornar o ambiente
agradável, ao menos para mim. É o que importa.
Fotos: Roberta, Objetos de adorno de casa. Em matéria que fez comigo para o Blog: arquitetogratis.blogspot.com.br