Hoje
em dia, todo mundo se acha humorista, basta uma rápida olhada pelas redes, e voilà, lá estão eles... Alguns de fato
com tiradas excelentes, outros com sofríveis e pretensas colocações que mais
irritam que fazem rir; aliás, a pretensão em um texto é o que há de pior. Tanto
que os mais pobres em talento são aqueles que se levam muito a sério, e aí, a
falta de humor do rir de si próprio é pior que o humor forçado e sem graça das
impostações antinaturais.
Dia
destes, irritei-me com uma peça onde o fácil riso era arrancado a fórceps via
escatologias e perpetuação de conceitos, e pior, pré-conceitos. Mas enfim, era
o que tínhamos para o dia, e pelo menos
no que tange à representação, era muito bem encenada.
Mas
o que de fato me levou a falar sobre isto hoje, foram saudades de “O Boca”. Nos
anos 1980, ainda circulavam pelo país exemplares da imprensa nanica – assim
chamada a mídia impressa fora de grandes editoras, os pequenos jornais,
revistas e zines que surgiram durante a ditadura militar, época de repressões e
censuras, quando apenas os “resistentes” se atreviam a escrever textos fora do
padrão conservador, de política, religião e ordem moral. Não sei se “O Boca” na
verdade se encaixaria nesta produção, já que era apenas uma folha de sulfite
impressa dos dois lados e distribuída nas ruas do Gonzaga, em Santos.
Cheguei a
fazer assinatura do “semanário” e adorava recebê-lo pelo humor que se encaixava
ao meu senso de riso; infelizmente, o projeto não foi adiante e durou pouco,
mas acordei lembrando dele, do primeiro número que me caiu às mãos. A memória
dos que envelhecem fica mais saudosa mas perde detalhes e me trouxe à cena o
texto que talvez a muitos não desperte hoje sequer um esboço de lábios, mas à
época dos planos cruzados sob a batuta de “Sir Ney” (entre outras alcunhas era
como “O Boca” se referia ao presidente desta república), ria-me da manchete:
“Dom Pedro I confessa: 'Gritei só para soltar a franga!'” E ainda mais do texto
que narrava que... “D. Pedro lavava as roupas da marquesa de Santos às margens
do riacho do Ipiranga, quando esta o mandou lavar também a trouxa de roupas de
uma amiga dela, do Rio de Janeiro, uma tal de Imperatriz Leopoldinense. Cansado
de tanto esfregar, D. Pedro pensou: só me restam duas alternativas, ou lutar ou
gritar e fugir para Portugal com meu caso, à época Roberto Leal. Como não sabia
lutar, resolveu gritar e fugir, pegando um voo para Lisboa pela TAP – Tamancos
Aéreos Portugueses...”
Lembro ainda que no aeroporto ouviu-se o
anúncio: “As Galinhas Argentinas informam a hora certa...” Mas o resto do texto
perdeu-se no tempo e o resgate mnemônico perde às vezes as melhores partes...
E ai, como eu
não acho graça na maioria das coisas que vejo com tal fim, o leitor também pode
não ter achado a mínima neste texto; pax-ciência é o que temos pra hoje...
Oremos.
Foto: Adriana Loche a gargalhar.