E a glória,
que só vem na velhice, nos serve como conforto.
Embora as
“flores de cemitério” nos encham (como um canteiro bem semeado) as costas das
mãos e os rostos, tingindo com suas pintas circulares, marrons em diversos
matizes, a denunciar idades, sofrimentos e noites em claro, por festas, por
alegrias, por tristezas, preocupações, crises ou insônias sem motivo...
A
glória tardia nos proporciona certo prazer intelectual com o qual resolvemos
que sem essa maturidade ela não se aproximaria, pois enquanto o corpo apodrece
o intelecto só aí está maduro. Traz alguma fama, resquício de vaidades que a
mesma madureza não sana.
E
que mais essa “glória”, esse “reconhecimento” traz? O que diz?... Que é real?
Ou é a pura “maya” hindu? Que vemos
apenas nós mesmos, para nos consolarmos com as dores, as rugas, as dobras, os
odores que surgem e com os quais não sabemos lidar sem deprimir?
E
é por isso que nos contentamos e ávidos nos saciamos com amores e amantes de
ocasião que vêm junto ao prêmio que nos consola. Usamos os corpos que nos usa
para pegar carona nesse momento fugaz que é qualquer reconhecimento de
intelectualidade, de sagacidade ou expertise.
E
ao usarmos nós, desse expediente, damos a nós mesmos o atestado que não os
temos.
Oh, Glória...
Que por pura falta de história buscamos com avidez pérfida, é o que temos... A
consolação de que em breve o troféu será em forma de coroa de flores, em
cerimônia à luz de velas... Esperamos seja concorrida, e que de preferência
estejam presentes algumas carpideiras. Ai de nós, pobres velhos iludidos com
prestígio e fama mais fugidias que qualquer fluídica inspiração.
Foto: Djair - Senhor a meditar em praça na Cidade de Goiás (Aliás, conhecida como: Goiás velho.) - GO