sexta-feira, 27 de junho de 2014

As amigas da titia...



             Pois bem, tia Daça tinha várias outras amigas além de Socorrinha, a do olhar lânguido a qual me referi no último texto - se você segue o blog vai lembrar... -,  embora aquela fosse sua melhor amiga à época, a ponto de quando ela se casou ter sido convidada por minha tia a batizar seu primeiro filho, convite feito, minha tia morando em S. Luis do Maranhão, Socorrinha em Barro Duro, interior do Piauí... Ambas já casadas... O batismo não saiu e Danilson teve outra madrinha e padrinho que desconheço, por esse tempo eu já tinha retornado a São Paulo, terra de meu pai.

            Mas eis que naqueles dias em Teresina - onde passamos pouco mais de um ano, já que a obra que meu progenitor havia ido chefiar teve sua conclusão - nossa casa era frequentada por várias flores amigas de minha tia, sempre que vinham a Teresina. Socorrinha era a única que morava lá mesmo, fora para estudar e fazia o  curso de pedagogia, o que lhe valeu mais tarde a direção de uma escola em Barro Duro.

           Ely era uma das mais bonitas, e me lembrava Gislaine, uma prima por parte de pai, que morava em Santos – SP, a quem na infância eu dizia que seria com quem iria me casar. Ely, de cabelos castanhos, compridos, seios fartos sem descambar ao exagero, tinha até mesmo os dentes bem pronunciados de Gislaine. Lembro que em uma das visitas insistiu ela mesma de passar o café que tomávamos à tardinha. Cheia de autos elogios sobre sua infusão do pó de grãos, meteu-se à cozinha e nos veio com seu líquido marrom. Tomamos... Daí a pouco Ely se foi, já que voltava a sua cidade dali a pouco. Vejo logo em seguida minha mãe levantar-se e dizer: _Bom, agora vamos tomar um café de verdade, que esse mijo de vaca da Ely não está com nada. E a gargalhada foi geral.

            Se Ely na sua fartura e Socorrinha em sua languidez sensual eram belas, Mirta era uma desgraça, coitadinha!, feinha coitada, feinha que doía, lembrava a finada Aracy de Almeida com seus óculos escuros  enormes que mais a enfeiavam, e observem que: a época, não existiam esses modelos medonhos de hoje que deixam as pessoas com cara de alienígena de filme da sessão da tarde, mas enfim, era feia a Mirta. Pra ajudar não era simpática, ou eu teria ao menos essa desculpa e talvez entrasse num dilema machadiano, se feia porque tão simpática? Se tão simpática porque feia? Mas não, ela não era...

Flor do baile - Foto: Djair
            Quiseram o destino e o tesão que Mirta sucumbisse ao charme de um rapaz lá de sua cidade, e assim caída em tentação, deixou-se deflorar. Pois bem, no mal-me-quer, bem-me-quer, a pétala se foi... Os irmãos nem quiseram saber se foi ela quem deu em cima, ou se deu embaixo, vá lá se saber... O fato é que chegaram juntos, tomando dores e preservando a honra e cercando o deflorador, disseram apenas: "_Ou casa, ou os ovos!"

            Nunca soube de ninguém, que nesses casos, escolhesse a castração... Pois muito bem, Mirta casou! Não importa o quanto durou, nem que o marido tenha fugido com outra, tempos depois. Casou!

domingo, 22 de junho de 2014

Um dia de Flamengo e Ríver

      E quando moramos em Teresina, naquele longínquo 1979, quiseram o destino e a vontade dela, que minha tia Dacilene, a quem todos chamam até hoje Daça, vir passar uns tempos conosco. Naquele final de década eu cursava a sexta série, em uma escola cuja farda era camisa branca e calça de mescla. À tarde, depois de chegar do colégio, banho tomado, sentávamos à calçada, à sombra, e por vezes colocávamos ali a televisão, abrigando-nos assim daquele calor digno de Macondo, que só García Márquez saberia descrever tão bem. Ali, vez por outra, um passante parava à rua para assistir ali um pedaço do capítulo da novela, ali comprávamos o leite por volta das 18:00hsdo moço que trazia os galões na bicicleta, e os pães e broas, manuês e bolos que outros traziam em bicicletas ou dos que vinham a pé trazendo em cestos bolo de fubá, bolo frito e toda sorte de quitandas. Já era praxe e venda garantida. Na casa ao lado, D. Raimunda fazia o mesmo, embora sua TV não saísse da sala.

      Naquele final de década, o Flamengo do Rio tinha Zico, e o Flamengo do Piauí, tinha... tinha... bem, tinha lá seus jogadores. Fui com tia Daça e Socorrinha, uma de suas amigas, que a mim causava sempre uma impressão... Forte... O olhar lânguido, os cabelos cacheados e a pele muito clara que contrastava com o castanho escuro daqueles cabelos, pequena estatura, voz suave... Bem, fomos a uma das partidas; como diz minha mãe: se o espirito não me mente e a verdade não me falha, o jogo era com o Ríver. E fomos de camisetas, rubro negras, bandeira em punho, enorme, cuja haste era de talo de buriti, leve e firme.

     No Albertão, eu ainda não conhecia Morumbi, nem qualquer outro estádio, a imensidão da torcida, toda empunhada com as bandeiras. No intervalo, refrigerante e coxinha; foi onde vi pela primeira vez os desenhos da genitália humana, que o populacho reproduz pelas paredes e portas, muros e onde mais lhes caiba a mão e o giz, caneta ou pincel, por seu simples desejo ou pelo pouco uso que faz deles, igualzinhos aos que Pedro Nava descreve em seu “Baú de ossos”, com a diferença de que ele as vê, se não me trai a memória, no Maracanã. E surpresa, mas nem tanto, ele ainda menino, eu também, reconhecemos nas tais figuras a tal tesoura mal desenhada, o triângulo com riscos que me lembrava apenas o símbolo que tinha na porta da loja maçônica, não trazendo quaisquer outras considerações ao menino de 12 anos. Lembro que comentei da tesoura e minha tia, como o tio de Nava, confirmava que o objeto cortante era mal desenhado.

      Volta à arquibancada, e que vexame!, não lembro de quanto, só que perdíamos feio, e nem cheguei a ver que ali estava também meu pai, com uma das muitas amantes que teve durante a vida; só soube disto por ouvir conversas depois... Mas antes disso minha tia, a pretexto de que estávamos mesmo perdendo, chamou-me a ir embora, mesmo sem terminar o jogo, afinal, a saída era muito cheia de gente e seria complicado, melhor já ir embora mesmo. E fomos...

      Ao escolher o táxi, já que o jogo ainda não tinha terminado e eles abundavam à saída do estádio, lembro que escolheram o de um rapaz bonito; é, tia Daça e Socorrinha eram moças e à época não consta que tivessem namorados. Além de que, era só pra olhar mesmo. Pegamos o carro do moço, tia Daça bufando pela derrota me mandava enrolar e esconder a bandeira que eu teimava em trazer aberta. Pois bem, bandeira enrolada, entramos no carro e... o tal moço bonito era um anti-flamenguista ferrenho, ou dizia sê-lo a fim de fazer charme, e assim fomos até em casa ouvindo o sarro que ele teimava em mais tirar, quando mais amuadas as moças ficavam.

      Mas que foi um belo passeio, isso foi!


 Foto: Internet - Estádio Governador Alberto Tavares Silva "Albertão"
 http://folhadebatalha.com.br/portal/?pg=noticia&id=3043


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Palavrinhas sobre palavrões



“Há maneiras adequadas de discordar do governo e do governante. Defender ideias contrárias é uma delas. Argumentar com sobriedade é importante para concordar e para discordar. A vaia e as grosseiras palavras gritadas no estádio contra a presidente da República, Dilma, envergonharam todos os brasileiros, até os que não gostam dela.”

Luiz Otávio Pereira



"Um povo que se julga culto, educado, uma gente de bem. E não respeitou a Chefe de Estado num evento sob holofote mundial. Chefe esta que foi eleita democraticamente.

Juro. Pra mim é tão claro quanto o sol a tentativa de furto do Estado Democrático de Direito”

Anna Mazzeo



Ambas as sentenças, publicadas no facebook, pelos dois amigos, refletem a educação, digo a absoluta falta dela, embora grande parte dos que o façam clame justamente por melhoras na educação; afinal, para esses, a educação formal é aquela adquirida em bancos escolares e cadeiras acadêmicas.

E por falar em cadeiras acadêmicas, estou engasgado, há meses, mas especificamente desde março, com a capa da revista Cult, na qual vinha estampada a professora da UFRJ, Ivana Bentes, senhora com quem tive contato profissional há alguns anos. Gentil, simpática, educada e cordial, tal contato valeu-me inclusive agradecimento em seu livro: Glauber Rocha: Cartas ao mundo. Pois bem, na capa a professora trazia o dedo médio em riste.

Não comprei a revista, aliás, desde então deixei de comprar, achei desrespeitoso, no meu ver esse gesto, que não cai bem nem a homens nem a mulheres (se aqueles, tendem a remeter à ideia de seus pênis, elas desejariam demonstrar seus clitóris?). O título da matéria era: “Respeitosamente Vândala”! Sério mesmo, que alguém pense ser respeitoso empunhando uma ereção do artelho central de uma das mãos? Isto à capa de uma revista que fica exposta nas bancas à vista de todo e qualquer passante? Onde somos obrigados a ver ainda que não quiséssemos? E era o que acontecia a cada hora de almoço onde, para chegar ao restaurante cotidiano, passava em frente à banca... Realmente eu tinha raiva cada vez que via a tal capa. Não tive desejos de ler o que ela tinha a dizer. Respeitosamente, declino.

Dia destes, um outro colega de rede social, posta também, assim, gratuitamente, o mesmo gesto: será que acha engraçado? Moderno? Rebelde? Não sei... Apenas cliquei o não quero ver isto. Afinal de contas, ainda valia manter-lhe ali apesar da reprodução do gesto. E ali eu tinha essa opção, diferente da capa da revista estendida à altura dos olhos, na banca.

E assim, vemos e ouvimos, os “vai tomar em tal lugar”, e outros mais de naipes semelhantes, em estádios, no metrô, na rua... Não que eu não fale palavrões, falo, embora evite esses, e ainda mais assim, gratuitamente, pelo simples prazer de mostrar-se boçal ou indignada, quando parece mesmo querer aparecer a qualquer custo. 

Foto:  A capa da revista citada no texto, com edição feita por mim, a fim de não propalar o tal gesto.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Trova pequenina

     Realmente, uma “crise criativa” se apossa de mim nos últimos tempos, mais vontade de ler do que de escrever. Nenhuma vontade de reler e corrigir textos (meus); mas para rebater, nada como voltar ao blog, afinal escrever também é um ato de disciplina e de libertação, de liberação, então 'bora' reagir, como doses homeopáticas são recomendadas voltemos com uma pequenina trova, coisa suave, como quem ouve violinos e colhe sorrisos. 
Foto: Djair/Banco em rua bucólica da cidade de Goiás (Vulgo: Goiás Velho) - GO
 Os pés
As pétalas
O Pisar
Passo a passo
Flores no teu caminhar.