segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Olhos felizes

Tem gente que ri com os olhos
Há quem ilumine os outros com um sorriso
Às vezes O olhar é vago
Outras vezes, certeiro, preciso
Às vezes os olhos estão nos olhos
Às vezes o olhar está na nuca
Às vezes o olhar alegra
Às, o olhar machuca
Às vezes se nota o olhar
Às vezes passa batido
Às vezes o olhar se perde
Às vezes se perde o sorriso
Às vezes o olho ri
Outras tantas o olho chora
Se rís quero abraçar
Se não ris quero ir embora








Foto: Djair - Pintura rupestre - Serra da Capivara - Piauí. 
Cerca de 10.000 anos

sábado, 21 de outubro de 2017

Posers, Fakes e outras personas...

Nas redes, os posers são ainda mais inconsistentes que os fakes.

Esses últimos assumem uma personagem, uma personalidade ficticía, a qual copiam e adéquam seus reais sentimentos, cultura, ou estereótipos próximos àquilo que eles mesmos desenvolvem em si. Mas em grande parte das vezes sem assumir um papel realista, e aí falo daqueles que, óbvio, deixam claro ser um “fake”. O nome, a foto ou desenho usado como avatar já deixa isso legendado em seu personagem. Criam um perfil e ali já se declaram ser uma personagem. Muitas vezes, para dizer aquilo que desejariam falar às claras mas por fatores socioculturais não se permitem.

Os posers por sua vez, postam fotos em poses estudadas, junto a carrões que não lhes pertence, postando guitarras e violões sem saber tocá-los, o que não é crime algum, mas não seria legal se deixassem claro ser isso apenas uma curtição? Não! Se levam a sério, se dão grande importância. Com suas filosofias de almanaque acham-se Platões. Não leem notícias, apenas as manchetes e a partir daí tiram conclusões e opiniões que defenderão irracionalmente. Não é apenas um ego inflamado ou um id condescendente. É mais que isso. Condenam ao sétimo círculo do inferno – aquele que Dante destina aos hereges e aos que pecaram contra a castidade - . Afinal, questionar-lhes, quem tem esse direito?

Pergunto-me muitas vezes se na calda da noite repensam seus dias, seus dizeres, seus prazeres… Ou se ao contrário, dormem tranquilos e ronronam com suavidade, felizes com seus fazeres.

Há também o poser ingênuo, ele na verdade não tem defeito grave, apenas lhe falta um toque de personalidade – menos valia?, deficit educacional - , e então embarca em uma série de atitudes, gestos e gostos que não lhe pertencem, e nem sequer lhe caem bem. É o fiel mais devotado e conhecedor de uma religião que abandonará daí a 6 meses, e aí alardeará com o mesmo entusiasmo contra aquela, é o sujeito que nunca tinha ouvido falar de tal banda que entrou na moda, mas torna-se seu maior fã, conhecedor, e quiça o descobridor. Até que um novo ritmo entre em moda, e assim um determinado autor, ator ou diretor. Sucedem-se estilos musicais e o próximo verão será de riscos para seus gostos.

Ninguém é tão bom quanto ele, e a necessidade de mostrar isso o faz monopolizar os diálogos. Adler quando fala do complexo de inferioridade e sua exacerbação deixa claro o porque.

Mas não o temos todos nós, em maior ou menor grau?
Não há conclusões, são apenas impressões.


Foto: Djair - Imagem de uma amiga com quem conversava sobre estas questões, e que a cedeu para ilustração do texto.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Ser, Não ser, Tornar-se.

Já não sou quem eu era. 
 
Sim, pois mudamos a cada minuto, não apenas com rugas novas ou mais um fio de cabelo branco, mas o modo de ver as coisas; não no que se refere à perda de visão, cataratas, miopias e outras que se acentuam com a velhice, mas o modo de perceber as coisas, pessoas, sentimentos, ações…

Também não sou o que eu queria ser. E ser metamorfose não é questão de preferir ou escolher, é de viver, lutar, perceber, perceber-se, sobreviver… Além do “estar”, “ser”. Sem essa de “to be”, que ser é muito mais profundo que estar, pois independentemente de onde e como se “está” o que se é, é ainda maior. E embora o fato de “estar” interfira metamorfoseando o ser, ele é.

A vontade de ser outro o torna uma pessoa que não aquela que gostaria de ser, e ainda uma diferente daquela que é. Como que comunga-se de ambos e se torna aí uma terceira pessoa. Não, deixemos Freud e a teoria dos recalques fora disso, afinal, “um charuto é as vezes apenas um charuto” não disse ele mesmo?

As expectativas, correspondidas ou não, os lugares, as pessoas, os signos redescobertos, redefinidos, redesenhados, alinham pareceres claros e obscuros num jogo de luz e sombras, encerram visões açucaradas e freios controladores, a lagarta entra na solitária repressora do casulo para metamorfosear, e dali sai, tanto faz se mariposa ou borboleta; se liberta, completa, já não é lagarta.

E a barata de Kafka? E a mosca de Cronenberg?

E se a mosca pousa na sua sopa? Você a espanta ou se espanta? O que lhe causa espanto? A mosca ou o medo de ser a mosca?




Foto: Djair - Espantalho - Parque D. Carlos I - Caldas da Rainha, Portugal - 05/10/2017 - Evento: Tradições da Vila.